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⇢ Frank Curry acha que sou frouxa. Talvez por eu ser mulher. Talvez por eu ser frouxa. (p. 8)

⇢ Quando algo a incomoda, tem um tique peculiar: puxa os cílios. Algumas vezes eles caem. Durante alguns anos particularmente difíceis, quando eu era criança, ela não tinha cílio algum, e seus olhos eram de um rosa viscoso constante, vulneráveis como coelhos de laboratórios. No inverno, vertiam rios de lagrimas sempre que ela ficava ao ar livre. O que não era frequente. (p. 30)

⇢ Você é Camille. Minha meia-irmã. A primeira filha de Adora, antes de Marian. Você é pré e eu sou pós. (p. 47)

⇢ Eu me corto, sabe? E pico, e fatio, e gravo e furo. Sou um caso muito especial. Eu tenho determinação. Minha pele grita, vê? Está coberta de palavras — cozinha, cupcake, gato, cachos —, como se um garotinho com uma faca tivesse aprendido a escrever em minha pele. (p. 64)

⇢ O problema começou muito antes disso, claro. Problemas sempre começam muito antes de você realmente vê-los. (p. 65)

⇢ Número de sinônimos para ansiosa gravados em minha pele: onze. (p. 65)

⇢ É impossível competir com os mortos. Eu gostaria de conseguir parar de tentar. (p. 69)

⇢ Certa vez eu estava parada em uma esquina fria de Chicago, esperando o sinal abrir, quando um cego surgiu batendo sua bengala. Qual é o cruzamento aqui?, perguntou, e quando não respondi, ele se virou na minha direção e perguntou: Há alguém aqui? Eu estou aqui, falei, e essas palavras pareceram chocantemente reconfortantes. Quando entro em pânico eu as digo a mim mesma em voz alta. Eu estou aqui. Não costumo sentir que estou. Sinto como se uma rajada de vento quente pudesse soprar em minha direção e me fazer desaparecer para sempre, nenhuma ponta de unha deixada para trás. Alguns dias acho essa ideia reconfortante; em outros, ela me dá arrepios. (p. 100)

⇢ Só acho que algumas mulheres não nascem para ser mães. E algumas mulheres não nascem para ser filhas. (p. 117)

⇢ Gosto de riscar os dias no calendário — cento e cinquenta e um dias riscados e nada realmente horrível aconteceu. Cento e cinquenta e dois e o mundo não está destruído. Cento e cinquenta e três e eu não destruí ninguém. Cento e cinquenta e quatro e ninguém realmente me odeia. Às vezes penso que nunca me sentirei segura até poder contar meus últimos dias em uma das mãos. Mais três dias a suportar até não precisar mais me preocupar com a vida. (p. 118)

⇢ Quando triste, eu me feria. Amma feria os outros. Quando eu queria atenção, me submetia aos garotos: Faça o que quiser, apenas goste de mim. As ofertas sexuais de Amma pareciam uma forma de agressão. [...] Faça o que quero; talvez eu goste de você. (p. 156)

O rosto que você apresenta ao mundo diz ao mundo como tratar você, minha mãe costumava dizer sempre que eu resistia aos seus cuidados. (p. 228)

⇢ No final resta um fato: Amma gostava de machucar. Eu gosto de violência, ela gritara para mim. Eu culpo minha mãe. Uma criança criada com veneno considera dor um consolo. (p. 251)

jul 19 2018 ∞
aug 10 2018 +