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  • "De quem e de que, de fato, posso dizer 'conheço isso'? Este coração, em mim, posso experimentá-lo e julgo que ele existe. Este mundo, posso tocá-lo e julgo ainda que ele existe. Pára aí toda a minha ciência, o resto é construção."
  • "O 'conhece-te a ti mesmo' de Sócrates tem tanto valor quanto o 'sê virtuoso' do nossos confessionários. Revelam uma nostalgia, ao mesmo tempo que uma ignorância. São jogos estéreis sobre grandes assuntos. São legítimos apenas na medida exata em que são aproximativos."
  • "Querer é suscitar os paradoxos."
  • "Esse mundo em si mesmo não é razoável: é tudo o que se pode dizer a respeito. Mas o que é absurdo é o confronto entre esse irracional e esse desejo apaixonado de clareza cujo apelo ressoa no mais profundo do homem."
  • "Um homem é sempre a presa de suas verdades."
  • "Procurar o que é verdadeiro não é procurar o que é desejável. [...] É preciso, como o burro, nutrir-se das rosas da ilusão. Antes de se resignar à mentira, o espírito absurdo prefere adotar sem temor a resposta de Kierkegaard: 'o desespero'. Bem pesadas as coisas, uma alma decidida sempre saberá se sair bem."
  • "Há diversas maneiras de saltar, mas o essencial é saltar. Essas negações redentoras, essas contradições finais que negam o obstáculo ainda não vencido, podem nascer tanto (é o paradoxo o alvo deste raciocínio) de uma inspiração religiosa como da ordem racional. Elas aspiram sempre ao eterno, é apenas nisso que dão o salto."
  • "Pensar não é unificar, tornar familiar a aparência sob a fisionomia de um grande princípio. Pensar é reaprender a ver, dirigir a consciência, fazer de cada imagem um lugar privilegiado."
  • "Compreendo então por que as doutrinas que me explicam tudo me enfraquecem ao mesmo tempo. Elas me descarregam do peso da minha própria vida e o que é mais necessário, no entanto, é que eu o suporte sozinho. A essa altura só posso conceber que uma metafísica cética vá se aliar a uma moral da renúncia."
  • "A morte está ali como única realidade. Depois dela, a sorte está lançada. Não sou mais livre para me perpetuar, mas escravo, e escravo, sobretudo, sem esperança de revolução eterna, sem refúgio no desprezo. E quem, sem revolução e sem desprezo, pode permanecer escravo? Que liberdade, no sentido pleno pode existir sem garantia de eternidade?"
  • "O que é, realmente, o homem absurdo? Aquele que, sem o negar, não faz nada para o eterno. Não que a nostalgia lhe seja estranha. Mas ele prefere sua coragem e seu raciocínio. A primeira o ensina a viver sem apelação e a se bastar com o que tem, o segundo o instrui sobre seus limites. Certo de sua liberdade a prazo, de sua revolta sem futuro e de sua consciência perecível, prossegue em aventura no tempo da sua vida."
  • "A certeza de um Deus que daria seu sentido à vida ultrapassa de muito, em atrativo, o poder impune de fazer mal."
  • "O homem absurdo é o que não se separa do tempo. Don Juan não pensa em 'colecionar' as mulheres. Ele esgota a quantidade delas e, com isso, as possibilidades de sua vida. Colecionar é ser capaz de ficar vivendo do passado. Mas ele rejeita a saudade, essa outra forma da esperança. Não sabe olhar os retratos."
  • "Porque o amor de que se fala aqui é adornado com as ilusões do eterno. Todos os especialistas da paixão nos ensinam isso: só existe amor eterno contrariado. Quase não existe paixão sem luta. Um amor semelhante só tem fim na última contradição que é a morte. É preciso ser Werther ou nada."
  • "Não há amor generoso além daquele que se sabe ao mesmo tempo singular e passageiro."
  • "Desconfie dos que dizem: 'Isso eu conheço bem demais para poder exprimi-lo.' Porque, se não o podem, é porque não o conhecem ou porque, por preguiça, pararam na casca."
  • "Um homem é um homem mais pelas coisas que cala do que pelas que diz."
  • "O homem é seu próprio fim."
  • "No universo do revoltado, a morte exalta a injustiça. Ela é o supremo abuso."
  • "Nesse universo, a obra é então a única possibilidade de se manter a consciência e se fixar em suas aventuras. Criar é viver duas vezes."
  • "A Igreja só tem sido tão dura para com os hereges porque achava que não há pior inimigo do que um filho desgarrado. Mas a história das ousadias gnósticas e a persistência das correntes maniquéias fizeram mais, para a construção do dogma ortodoxo, do que todas as preces. Guardadas as devidas proporções, acontece o mesmo com o absurdo. Reconhece-se a sua trilha descobrindo os caminhos que se afastam dele."
  • "Fora dessa única fatalidade da morte, tudo, alegria ou felicidade, está liberto. Permanece um mundo de que o homem é o único senhor."
  • "Deixo Sísifo no sopé da montanha! Sempre se reencontra seu fardo. Mas Sísifo ensina a fidelidade superior que nega os deuses e levanta os rochedos. Ele também acha que tudo está bem. Esse universo doravante sem senhor não lhe parece nem estéril nem fútil. Cada um dos grãos dessa pedra, cada clarão mineral dessa montanha cheia de noite, só para ele forma um mundo. A própria luta em direção aos cimos é suficiente para preencher um coração humano. É preciso imaginar Sísifo feliz."
nov 27 2014 ∞
aug 24 2018 +