Ah, minha vovó... cara, ela é o ser mais doce que esse mundo poderia receber. É a maior preciosidade desse universo e vale mais do que qualquer coisa no mundo capitalista. Você pode imaginar, mas nunca entenderá como era estar vendo desenho na sala durante a tarde e gritar: "Vovó, quero tetê!" e ela vir com uma mamadeira de leite quentinho com chocolate. Depois ela sempre voltava para a cozinha e lavava louça assobiando música MPB. Eu amava e ainda amo incondicionalmente esse costume que ela tinha de assobiar enquanto estava distraída. Eu também aprendi a amar plantas vendo ela cuidar tão bem das que possuía. Juro que havia vasos encostado por todas as paredes de casa e era adorável como ela falava com as meninas verdinhas e as perguntava se estava muito calor. Minha vovó era adorável até arrumando uma roupa descosturada e mexendo nos óculos enormes. As camisolas que ela usava para dormir sempre com cores nude e os chinelos que deixava na beira da cama, porque nunca andava descalço; o cheiro natural dela era de leite com aveia e, quando ela passava creme corporal Monange, o mesmo ficava ainda melhor; a comida sempre foi a melhor e eu comi enquanto morei com ela, porque era prazeroso, era a comida da minha vovó, até mesmo os doces caseiros estranhos. Mas a parte que mais guardo dentro da minha alma e do meu coração é a noite. Nós íamos para cama muito cedo e eu sempre tive insônia, então ela sempre juntava nossas camas e me contava histórias para dormir, eu sempre pedia pela mão dela e vovó sempre aceitava entrelaçar os dedos dela com os meus. A mão suave da minha vovó e a voz dela contando a história de João e Maria são coisas que tatuei permanentemente, me fiz e refiz baseado nisso. Eu sempre serei uma constipação de memórias com a minha vovó. Fui feliz e não soube aproveitar.