A luz forte do sol da manhã invadiu meu quarto, focando na cama onde eu estava, e isso atrapalhou o meu sono pesado daquela noite. Respirei fundo, ainda de olhos fechados. Apalpei o colchão no lugar ao meu lado. Estava vazio. Mais uma vez eu estava acordando sozinha. Procurei meu celular por baixo do travesseiro, e finalmente abri os olhos para ver as horas. Eram 10h. É claro que ele não estaria mais aqui. Ele nunca passava das 7h, e isso já era muito. Eu sei que eu não podia julgá-lo por isso. Afinal, era o trabalho dele, era o que ele amava. Mas, me deixava vazia tê-lo por poucos dias em casa e por poucas horas, as quais grande parte passávamos dormindo por conta de seu cansaço. A noite passada já havíamos discutido por isso. Eu não conseguia guardar as coisas pra mim por tanto tempo, e ele não percebia, ou se percebia não falava nada. Mas, ontem ele falou, foi uma das únicas vezes em que Jinyoung se explodira comigo. Ele sempre foi muito paciente sempre que eu discutia com ele. Ele sempre tinha o poder de me acalmar mesmo com raiva. Ele sabia me controlar. Mas, não ontem.

  • Eu não aguento mais isso, Jinyoung. - eu fui atrás do garoto que entrava no quarto, tirando a jaqueta e jogando-a em cima do banco da penteadeira.

Ele suspirou antes de se voltar para mim, os olhos fechados. Quando ele os abriu, vi o seu cansaço e as grandes olheiras. Eu não queria discutir, mas, eu estava machucada mentalmente por tudo isso.

  • Não aguenta o quê, Nana? - ele me encarava.
  • Isso. Esse tipo de “relação” que nós temos, pois, não sei do que chamar isso. Seria um quarto de aluguel e de brinde a minha presença? Eu entendo tudo o que você passa, sua carreira e tudo o que envolve ela. Mas, me cansa ser uma segunda opção, se não, nem ao menos ser uma opção. Você não tem tempo nem para você! Que dirá ter tempo para mim! Isso. Isso me cansa, Jinyoung. E me machuca. Ficar te esperando todos os dias e nem sempre ter você aqui. Você chegar sempre tarde da noite e já cair na cama sem ao menos conversarmos. Qual foi a última vez que você teve um momento pra você? Para nós? - eu não queria ser o tipo de namorada que não entende o trabalho do namorado, eu entendia, eu via tudo o que ele fazia, tanto que eu o conheci nesse meio. Mas, eu sentia saudades, eu precisava dele comigo, eu sentia falta de todos os sorrisos que eu arrancava dele e das risadas tímidas que ele dava por algo que eu falava. Eu sentia falta de ser feliz e fazê-lo feliz. Eu sentia agora que, ele aqui era como uma rotina. Que ele não estava mais feliz com isso. E isso partia cada pedaço do meu coração.
  • Nana, eu me esforço sempre para estar aqui. Para pelo menos dormir ao seu lado, para saber que você está aqui. - ele me olhava intensamente.
  • Eu não sinto mais que você queira estar aqui. Que queira estar comigo, Jinyoung. É como se fosse um tipo de obrigação.
  • Assim como você teve quando estava estudando fora por dois meses? Quando me ligava e eu sentia que você nem ao menos queria falar comigo? É isso que você realmente discutir? Sobre quem queria algo a mais ou a menos na nossa relação? - dessa vez Jinyoung alterou sua voz e foi como uma facada em meu coração.
  • Jinyoung. Isso não tem nada a ver com o que estamos discutindo aqui!
  • Não tem? - ele soltou uma risada. - É claro que tem. É a mesma coisa se não pior! Eu não vi você por quase três meses, que, você iria ficar até mais se eu não tivesse sido um idiota que sentia sua falta todos os dias e pedi para você ficar só os dois meses fora.
  • Jinyoung, eu senti sua falta todos os dias também. Eu voltei porque também senti sua falta. Eu estou sempre sentindo sua falta. Para mim, nunca parece ser o suficiente o tempo em que passamos juntos. - dito isso, eu segui para a cama e me deitei, sem ao menos deixar Jinyoung me responder.

Me forcei a ficar quietinha na cama, os olhos fechados. Tensa, esperando sentir o movimento de Jinyoung ao se deitar na cama. O que demorou alguns minutos. Ele havia saído do quarto, e só depois de uns 10 minutos eu senti ele se deitando na cama ao meu lado. Ouvi sua respiração pesada. Ele se aproximou e me deu um beijo na bochecha antes de envolver seus braços em minha cintura e me puxar para perto de seu corpo. Meu coração doeu. Nós brigávamos mas no fim sempre estaríamos ali, um ao lado do outro. Isso, até o outro dia chegar.

Por ter folga na clínica onde trabalhava passei o dia em casa, alternando entre dormir, comer e assistir qualquer coisa na televisão. Até um mini show eu fiz quando estava arrumando a casa. A música alta provavelmente iria atormentar os vizinhos, mas eu não me importava. Entre o barulho da música e minha voz, ouvi batidas na porta. Rapidamente abaixei o som.

  • Quem? - gritei antes de seguir para a porta.
  • Encomenda. - uma voz masculina gritou do lado de fora. Eu arqueei as sobrancelhas. Não me lembrava de nenhuma encomenda no momento. Provavelmente coisa do Jinyoung ou dos meninos que pareciam não ter casa para sempre colocarem o meu endereço como endereço de entrega para suas compras na internet.

Destranquei a porta, e quando a abri, dei de cara com Jinyoung, que escorado na porta de braços cruzados, sorria para mim. Meu estômago revirou, novamente senti as minhas antigas amigas, as mini-Park borboletas brincando comigo. Sempre fico admirada com a capacidade de Jinyoung de me fazer odiá-lo e amá-lo ao mesmo tempo. Eu sorri olhando para o garoto. Haviam duas mochilas em seus pés. Ele iria ficar. Por quanto tempo eu não sabia, mas tinha certeza de que amanhã, quando eu acordasse, Jinyoung estaria ao meu lado.

apr 16 2017 ∞
apr 18 2017 +