Em Infância, retrata de uma descoberta de um pequeno garoto do sertão vivida pelo próprio autor. Nele descreve sua vida dura como um menino pobre de uma maneira fria de como era viver naquela época com a seca, violência, o desejo e descobrir de uma infância repleta de aventuras. O medo de seu pai e sua mãe, foram marcados principalmente pela violência; a falta de carinho o motivou a ter mais medo da sua realidade que a cada dia ia piorando, o que não foge hoje da realidade. Da minha realidade de quando eu também era criança.

"Os astrônomos eram formidáveis. Eu, pobre de mim, não desvendaria os segredos do céu. Preso à terra, sensibilizar-me-ia com histórias tristes, em que há homens perseguidos, mulheres e crianças abandonadas, escuridão e animais ferozes."

"O que me inquietava eram as almas. E a minha não morreu de todo. Aquele enorme desengano passou. Os fantasmas voltaram, abrandaram-me a solidão. Sumiram-se pouco a pouco e foram substituídos por outros fantasmas."

"Esqueci pouco a pouco a aventura e apaguei-me, reassumi as proporções ordinárias. Ficou-me, entretanto, um resto de pavor, que se confundiu com os receios domésticos. Arrepios súbitos, cabelos eriçados, tonturas, se alguém me fala. Nas trevas das noites compridas consegui afugentar perigos enrolando-me, deixando apenas o rosto descoberto. Uma ponta de lenço envolvia a testa, rodeava a cara. Sentia-me assim protegido: nenhum fantasma viria ameaçar-me a boca, o nariz e os olhos expostos. Se o pano se soltava, enchia-me de terrores. Era preciso que as orelhas e o couro cabeludo se escondessem, provavelmente por serem as partes mais sujeitas a acidentes. Talvez os duendes viessem magoá-las."

(6 de abril de 2012)

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