- E quem de si nasce à eternidade se condena.
- A casa morreu no lugar onde nasci: a minha infância não tem mais onde dormir.
- Talvez o amor não saiba amar. Talvez o amor seja um aprendiz de esperas e ausências.
- Depois do vidro, perdida da sua própria imagem, a paisagem ainda mora toda em mim. E eu, já, nela.
- A saudade é o que ficou do que nunca fomos.
- Que cura posso ter se o amor foi em mim a mais doce doença?
- No degrau da rua, a moça pinta as unhas. Dobrado em lua, seu corpo tem a delicada intenção do ourives: na decimal tela das mãos inventa lábios que o destino virá beijar.
- Assim, tudo o que sou já fui na criança que sonhou ser tudo. Meus lutos, sem emenda, carrego: viuvez de mulher não vem de marido. Vem do amor não mais sonhado.
- O caçador fala, o marinheiro cala. Um vive de morte emboscada, outro se amarra em cais de partida. O homem faz amor para se sentir bem. A mulher faz amor quando se sente bem. Uns falam. Outros apenas fogem do silêncio. Uns amam. Outros de si mesmos escapam.
- As vezes que morri boca derramada entre os teus seios, todas essas vezes não me deram luto porque, de mim, eu em ti nascia. Todos esses abismos, meu amor, não me deram regresso. Depois de ti, não há caminhos. Porque eu nasci antes de haver vida, depois de tu chegares.
- Tanta sede de lava: tua boca é água nascente. O luar em ti me diz: tudo é última vez. Teu riso, à despedida: um girassol que ama o escuro. No adeus sem voz eu escureço, rua abaixo, e terrestre se vai fazendo o céu.
feb 8 2022 ∞
apr 11 2024 +