- Era impossível destacar uma palavra da outra, seria como pretender cortar um rio a faca.
- Meu nome não aparecia, lógico, eu desde sempre estive destinado à sombra, mas que as palavras minhas fossem atribuídas a nomes mais e mais ilustres era estimulante, era como progredir na sombra.
- Já de algum tempo, conforme acabei sabendo, o Álvaro adestrava o rapaz para escrever não à maneira dos outros, mas à minha maneira de escrever pelos outros, o que me pareceu equivocado. Porque a minha mão seria sempre a minha mão, quem escrevia por outros eram como luvas minhas, da mesma forma que o ator se transveste em mil personagens para poder ser mil vezes ele mesmo.
- Descobri naquele instante que em meus sonhos eu falava húngaro (...) vibravam vozes húngaras ao meu redor, sem suspeitar que expunham a um intruso seus segredos.
- Não me aborrecia caminhar assim num mapa, talvez porque sempre tive a vaga sensação de ser eu também o mapa de uma pessoa.
- Mas não, eu estava mordendo a língua, porque não podia lhe revelar que fora um escritor, em minha língua nativa. Nem ela iria acreditar se eu lhe dissesse que na língua húngara me tornei poeta, simplesmente.
- Acho que eu tinha conservado da cidade uma lembrança fotográfica, e agora tudo o que se movia em cima dela me dava a impressão de um artifício (...) e dava de puxar assunto, sem desconfiar que se intrometer nos meus ouvidos naquele momento equivalia a me cortar a respiração.
feb 8 2023 ∞
dec 15 2024 +