- E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando por horas (...) eu escrevi uma canção tão bonita pra você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você, se por um acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse, cantando sem voz aquele pedaço em que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.
- Quisera dar-te, por exemplo, o instante em que nasci, marcado pela fatalidade da tua vinda. Verias, então, em mim, na transparência do meu peito, a sombra de tua forma anterior a ti mesma.
- Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de secionar aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.
- E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz
- Eu te amo tanto mais / Te quero tanto mais (...) E nada existe mais em minha vida / Como um carinho teu / Como um silêncio teu / Lembro um sorriso teu / Tão triste
- Eu sem você / É só desamor (..) Tenho os olhos cansados de olhar para o além
- É que eu gosto tanto dela / Que é capaz dela gostar de mim
- Pensa que a saudade / Mais do que a própria morte / Pode matar-me / De adeus
- Como vocês veem, estou sério e compenetrado no meu papel de esposo. Não mais farras, não mais mulheres. A última farra foi Paris, para desintoxicar o organismo de só ler livros. A vida tomou rumo.
- Eu inventava linguagem, só falando bobagem, só fazia bobagem, meu bem (...) Mas não há nada a fazer, meu destino é sofrer: e seria tão bom não sofrer. Porque toda alegria tua e minha seria, se você fosse louca por mim.
- Pelas rútilas ameias do teu riso entreaberto / Fui subindo, fui subindo no desejo de teus olhos / E o que vi era tão lindo, tão alegre, tão desperto / Que do alburno do meu tronco despontaram folhas novas / Eu te juro, Coisa Linda: vi nascer a madrugada / Entre os bordos delicados de tuas pálpebras meninas / E perdi-me em plena noite, luminosa e espiralada / Ao cair no negro vórtice letal de tuas retinas
- Sairei de mim mesmo em busca de mim mesmo, em busca de minha imagem perdida nos abismos do desespero, minha imagem cuja face já não me lembro mais.
- Possa eu mirar novamente os pélagos e compreendê-los; atravessar os desertos e amá-los. Possa eu deitar-me à noite na areia das praias e manter com as estrelas em delírio o colóquio da eternidade. Possa eu voltar a ser aquele que não teme ficar só consigo mesmo, numa dura solidão sem deliquescência.
- Que o meu rosto reflita nos espelhos um olhar doce e tranquilo, mesmo no mais fundo sofrimento; e que eu não me esqueça nunca de que devo estar constantemente em guarda de mim mesmo, para que sejam humanos e dignos o meu orgulho e a minha humildade, e para que eu cresça sempre no sentido de Tempo.
- São, na sua extrema juventude, a coisa mais antiga que há no parque, incluindo velhas árvores que por ali espapaçam sua verde sombra; e as momices e brincadeiras que se fazem dariam para escrever todo um tratado sobre a arqueologia do amor, pois têm uma tal ancestralidade que nunca se há de saber a quantos milênios remontam.
jul 7 2025 ∞
jul 13 2025 +