Peguei esse livro para ler sem nenhuma indicação ou conhecimento do tema. Mas, pelo título já imaginava que poderia se tratar de uma história de atmosfera sombria e talvez triste.
Judas, um menino pobre, orfão e que mora numa 'vila'. Rejeitado pela própria tia, com quem mora, e sem tantas perspectivas. Ainda criança, pensa em se tornar um habitante de Chrismiter, um estudioso e viver como vivem os homens lá. Contudo, muitos fatores naturais da vida acabam atrapalhando e afastando Judas do seu principal objetivo. Apesar de ter conseguido chegar na cidade, precisa trabalhar para ter um sustento e acaba sendo engolido por essa jornada e pela propria cidade, tendo agora pouquissimo tempo para estudar. Nesse meio tempo a vida de Judas sofre muitas reviravoltas, e, maior parte do tempo estava só. Raramente era possível o ver conversando com algum amigo, falando sobre sentimentos. O início de sua vida foi moldado em valores cristaos. Judas vivia, seguia e estudava bastante escrituras bíblicas. Sempre procurou manter-se como um bom homem. Após conhecer Sue, suas ideias começam a mudar. E, ao final, percebe que na verdade nunca houveram reais probabilidades para que se igualasse a universitários, doutores, membros do clero...
"(...) E é assim, entretanto, que, muitas vezes,julgamos os esforços, não pelo valor essencial, mas pelo seu resultado acidental.Se me tivesse tornado um desses senhores vestidos de vermelho e preto queestavamos vendo descer, ali, todos diri-am: “Vejam como este homem agiusabiamente, seguindo o pendor de sua natureza!”. Mas, não tendo acabadomelhor do que comecei, dizem: “Vejam como este homem agiu estupidamente,seguindo um capricho de sua imaginação!”. No entanto, foi minha pobreza e nãoa minha vontade quem determinou a minha derrota.(...) "
Para mim a melhor e a mais bem construída personagem foi Sue Bridehead. Diferente de maioria das mulheres do seu tempo, conseguiu estudar e formar opiniões críticas da sociedade em que vivia. Em muitos diálogos é perceptível a voracidade de Sue e como suas ideias estão 'a frente', contudo há sempre uma certa hesitação devido aos possíveis julgamentos. Ao mesmo tempo que Sue critica a religião, o cristianismo, possui um certo temor e por vezes acaba podando suas próprias vontades para conseguir se assemelhar mais a mulheres de sua época. Muitas vezes, tendemos a achar que a mesma pode estar enganando Judas ou algo do tipo, mas depois percebemos o medo que ela sempre teve até conseguir falar sobre seus reais sentimentos. Sue é uma mulher com grande potencial, mas ainda assim presa às amarras do julgamento social e religioso para com as mulheres na época, esse seu medo acaba por devorá-la e a impede de seguir suas próprias vontades após alguns acontecimentos trágicos.
É uma história, um drama sobre sentimentos humanos intensos e de sofrimento, tudo isso num contexto de uma época extremamente influenciada pelos valores cristãos, o que torna tudo ainda mais penoso devido a culpa por determinados sentimentos. Por outro lado, principalmente para Sue, mostra como a religião pode ser um refúgio depois de tantas tragédias, o que aparenta é que a mesma não determinados acontecimentos e procura justificar na religião, mas ainda assim culpando-se por tudo. No final, é ruim e bom. Apesar da sua consciencia ter achado justificativa, ela ainda achava que merecia sofrer e tudo não passava de um castigo divino por outrora ter seguido seus sentimentos.