Era quarta feira, não costumo pensar com imagens, mas esse cenário é bem real na minha memória, a rua, o apartamento. Era mais um GR, alguém estava de aniversário esse dia, essa memória já não é muito precisa. Posso chutar Emily, talvez Stephanie, difícil dizer. A reunião tinha sido boa. Na tentativa de descontrair, meio errante e desengonçada como de costume, eu pego um copo. Era um copo comprido, verde, desses de plástico que ganhamos em festa. Com um sorriso digo que o copo é de pobre, Amanda ri de volta. Leve, saio triunfante do momento, eu consegui, o momento me soava agradável. Como um pedaço de bolo de chocolate.
Em casa, deito na cama, recebo uma mensagem. Alguma coisa deu errado. Confusa leio um enorme texto. Fazemos tudo com muito carinho, disponibilizamos a casa, mesmo sabendo que somos humildes. ficamos mal com o seu comentário. Por instantes eu fico incrédula, sem chão. Como uma piada resultou nisso, de novo. Como eu sempre chego aqui. O que de tão desagradável meu rosto, minha voz ou meu corpo comunicam tamanha babaquisse. Formulo um texto, acho que humildade é o melhor caminho. Encarro a pilha de copos, de plástico desses que se ganha em festa, na minha casa. envio minhas desculpas.
São Paulo está alagada, choveu cerca de 17 horas na última noite. Eu não vi uma gota, estava dormindo. A gente queria explorar a cidade. Eu na verdade desistiria fácil diante da dificuldade, mas a Amanda destemida queria encarar. A liberdade estava vazia, mas isso era perfeito. A 25 de março já não se deixou abalar. Comprar uma paleta de sombra colorida que cheirava massinha de modelar e pinho sol parecia uma boa forma de gastar nossos últimos 30 reais.
Hey, você lembra do copo de pobre, caímos na risada. Uma tortinha na mão, verdade né, não fazia mais tanta diferença.