o silêncio inquieto da noite

virou meu melhor amigo

com todos os ventos assobiados

contemplo o vazio dentro de mim.

acostumei-me a despedir-me de todos

que acabei dando adeus à mim mesma.

eu ando perdida, de fato

e não sei quando irei me encontrar.

certeza que muito tempo não durará

as máscaras que encobrem o que sinto

pouco a pouco, caem

e pedaços meus, vão junto.

procura-se eu.

e se encontrar-me

favor, devolver ao meu vazio particular;

para minha bolha solitária.

E.R

estávamos no mesmo lugar

mas em momentos diferentes. essa é a verdade?

ou apenas outra fantasia

criada pela minha mente? (ou por ti, nunca sabe-se).

você finge ou sente minha falta?

você realmente quer resquícios meus de novo? ou é apenas mais uma farsa

mentira inventada e contorcida por sua língua.

(ou sou eu? que tanto minto e não percebo?)

honestamente, estou farta

de tanta indecisão

tanta incerteza

e de ainda ter-te em meu coração.

E.R

corra! atrás dos pedaços do meu coração

que joguei às margens do rio que tanto conhecíamos.

certo? O que fui para você?

amigo, volte rápido ou lamente pela meu adoecimento

uma alma amargurada sem saída

a morte chama-me para dançar

e talvez eu vá.

vamos! Vamos!

e que o amor ingênuo e agridoce fará por nós?

espeta-me com os espinhos de sua paixão falsa.

eu aceito ir sem ti

echo que não conseguirei recomeçar

e o que resta-me?

entregar-me a infelicidade eterna de não ter-te ao meu lado

a modernidade falhou conosco, mi amour!

E.R.

quero viajar nessa galáxia

que são seus olhos castanhos

deixe-me explorar

esse infinito que é você

a única poeira que quero inalar

é a poeira cósmica que você traz

em seu peito

(espero que minha rinite não ataque por conta dela)

eu quero fincar minha bandeira

em cada planeta teu

quero conhecer cada pedaço

da tua imensidão.

contarei as estrelas do teu vasto céu

admirarei sua lua enquanto recito poemas

passarei até pelo seu sol (pois seu calor é o único que quero sentir)

desejo ser a alienígena

viajando numa nave

pela profundeza do teu ser

da tua galáxia brilhante.

E.R.

um dia acordei e não era mais eu.

meu corpo não era meu

minha mente não era minha

indaguei-me e enfiei-me em meu próprio mundo

fui determinada a encontrar uma resposta

para minha maior dúvida:

quem sou eu?

é difícil definir-se.

é tão difícil ser alguém.

então, quem eu sou?

direi-te-ei com relutância

sem subjetividade

é um simples fato:

se eu não sei quem sou

como serei eu capaz de julgar alguém?

E.R.

meu vício

tão forte feito cafeína

alucina-me

faz o coração bater forte

e a mente funcionar

obsessão

fruto de uma paixão

foi efêmero

dolorido

mais rápido que o efeito do café

então eu fui à padaria

descansar a mente

pedi um copo de café

e na hora de solicitar uma dose extra de adoçante

errei

e acabei pedindo por uma dose extra do teu amor.

E.R.

pessoas de plástico,

casas de plástico

e carros de plástico a correr nas estradas

o que é real, no final das contas?

modelam, remodelam

fazem e desfazem;

montam, desmontam e remontam

reconstroem-nos visando a perfeição

mas o que é ser perfeito, afinal?

o vazio no peito?

o vácuo interno

ou o roncar do estômago?

sociedade de plástico

com vidas de plástico

e dores quase fingidas: hipersensíveis.

uma pena não sermos recicláveis.

E.R

seguimos nossos caminhos

distintos, distantes, totalmente diferentes

temos nosso próprio tempo

nossas prioridades

talvez tenha sido culpa do destino

e, por obra do acaso,

talvez nada seja como antes

e não há como voltar atrás

é estupidez persistir

tentar

forçar algo que já passou

porque eu tenho planos

e você tem os seus

agora, traçamos rumos separados

sem conversas ou piadinhas

sem o 'nós'

e apenas o 'eu' e 'você'

simplesmente coexistimos.

E.R

o que somos nós

além de meros estranhos agora?

evidente é o modo em que fugimos

tomamos caminhos diferentes

assustados e com medo

de nos encontrarmos novamente

parece que há uma barreira

entre eu e você

separando dois mundos

tão rudemente.

é que crescemos

mudamos

e achamos a direção certa

mesmo que isso requeresse

o que chamávamos de 'nós'.

e toda vez que tomo um caminho oposto ao seu

minha mente atenta-se a dor que alastra em meu corpo

quem diria?

que eu e você, um dia,

não passaríamos de dois estranhos?

ao mar

quero levar-te daqui

agarrar-te-ei

viajaremos para longe

iremos até um porto

logo ao mar

para a gente se amar.

E.R.

com os olhos esbanjando tamanho desagrado

o rosto retorcido de desgosto

nariz entupido de lágrimas que a escuridão acolheu

você ainda tem coragem de perguntar se estou bem?

o peso do mundo em minhas costas, meu anjo,

o dia passa rápido e

a noite acolhe-me como a pequena criança perdida que sou.

minhas olheiras não remetem-lhe a noites mal dormidas?

tudo porque minha mente funciona

mais do que deveria, não acha?

quando penso e penso e penso

sobre você

e mato-me lentamente.

você tirou-me tudo.

sem fazer nada.

cruel amor, hei de deixar-me com o coraçã...

ah, apodreci.

minhas flores morreram aos poucos

por conta desse intoxicante incômodo

que tomou conta de mim.

devorou-me de dentro para fora

tirou meus sentidos

e por fim, minha alma

estou perdida nesse mar de gente

tentando livrar-me desse maldito incômodo

que tomou grandes proporções

(mas como poderei eu, livrar-me de mim mesma?)

E.R. ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ

prometi jamais recitar outro poema

para alguém que tanto me fez sofrer

mas é que não há como separar

as palavras aos seus detalhes.

é porque tudo se encaixa tão bem

faz sentido comparar-te

endeusar-te!

eu ando escrevendo sobre você mais uma vez.

eu sempre estou escrevendo você

em todos os versos.

ah, é que eu vivo escrevendo

apenas sobre você

e pego-me pensando:

será que também não respiro você?

E.R

Um melodrama

o sentimento que morre toda noite

e renasce toda manhã

é a própria procura exarcebada

para ser feliz.

A corrida inacabável

uma lástima indiscutível

o excesso de ansiedade

talvez estejamos perdidos.

Perdidos em nosso mundo

englobados e manipulados

fingindo ser quem não somos

seguindo um roteiro.

Fingimos estar sóbrios o tempo inteiro

e estamos presos em nós mesmos

enjaulados e maltratados

por nosso próprio eu.

Um melodrama.

vivemos um melodrama

uma peça ensaiada

ao som de livres acordes.

E.R

hoje o céu está nublado

daqui vejo algumas trovoadas

e relâmpagos cortando o céu

as nuvens carregadas mudam de lugar a todo instante

acumuladas de tantas lágrimas contidas

e gritos silenciosos

quando a chuva cair

dentro do meu quarto

cairei também

e como uma nuvem

as gotas rolarão até cair ao chão

e enfim, sentirei-me livre

(livre até o próximo temporal)

E.R.

a intenção é libertar-me

então por que poesias são

tradicionalmente

tão sufocantes?

em meio dessa obrigação

de fazer tantas rimas

sou refém dessa prisão

que tranca meus sentimentos

sim, talvez seja impossível rimar

minha ideias complicadas não combinam com esse ritmo

é mais organizado do meu jeito

estrofes cheias de versos livres

palavras diferentes que tornam-se únicas

mesclam-se perfeitamente

é como se abrisse uma gaiola

e libertasse o pássaro quieto e recluso

que agora, voa e canta.

E.R.

o mundo é enorme

boba sou eu de chorar

por alguém que só me fez lamentar.

as ruas continuam as mesmas

e as casas da esquina com a mesma cor

e o bolo da minha vó com o mesmo sabor

o tempo passa

minha dor passa

e você também.

E.R.

ó, poderoso eu

pois não há algum deus

maior do que meu próprio eu

inflado e destemido

um ícone subestimado

meu nome em meio a diamantes

o poder presente em meu corpo

todo os meus passos são de ouro

e não há outro como eu

incrível! estupefato! único!

eu sei, eu sei

sou inconfundível.

mas em meio à tanta perfeição

perco-me em qual máscara usar

apenas para disfarçar

a insegurança que ousa me acercar.

E.R.