"Ontem meu camarada nervoso, insigne, íntegro, voltou-me a dar a velha inveja, o peso de minha própria substância intransferível.

Assaltei-te a mim, assalta-me a ti, este frio de punhal quando te mudaria pelos outros, quando tua insuficiência se dessangra dentro de ti como uma veia aberta e queres construir-te mais uma vez com aquilo que queres e não és.

Meu camarada, antigo de rosto como vestígio de vulcão, cinzas, cicatrizes junto aos velhos olhos candentes: (lâmpadas de seu próprio subterrâneo), enrugadas as mãos que acariciarão o fulgor do mundo e uma segurança independente, a espada do orgulho nessas velhas mãos de guerreiro.

Talvez seja isso o que eu queria como destino, aquele que não sou eu, porque constantemente mudamos de sol, de casa, de país, de chuva, de ares, de livro e traje, e o pior de mim segue me habitando. Sigo com aquilo que sou até a morte?

Meu camarada, então, bebeu em minha mesa, falou, quiçá, ou teve alguma de suas dúvidas duras como relâmpagos e se foi aos seus deveres, a sua casa, levando aquilo que eu quis ser e talvez melancólico por não ser eu. Por não ter os meus olhos, meus olhos miseráveis."

jan 5 2013 ∞
oct 18 2013 +