a solidão necessária para aproximar-se do outro

nao, da outra.

para se enxergar e pôr no papel

melhor, na folha.

para que uma mulher passe os olhos

não, a visao

sobre todo meu corpo

perdão, minha matéria e substância.

e possa ler nas entrelinhas e linhas de expressão

nas marcas

não de roupa, mas de tempo

droga, a idade

todas elas inscritas na minha pele

um discurso

não, uma palestra

sobre o ser nós e o ser eu

sobre a coletividade

impressa na individua

sujeitas subjetivas não subordinadas

todo meu escrito é mulher

ou melhor, toda minha escrita

é mulher

para mulher, de mulher, em mulher

mesmo que nao se saiba o que é

essas letras são mulheres

a tinta impressa será mulher

o toque no teclado foi mulher

os olhos que lêem são mulheres

tudo que sai de mim

tudo que sai de mim

tudo que sai de mim se esvai pra preencher

nós

mulher

minha dor é mulher

minha amor é mulher

minha pensar é mulher

minha escrever, também mulher

minha verbo é verba

que sustenta o ser mulher

a poesia nada poética dessa linharada escrita por uma

mulher

que nao sabe fazer poesia

mas sente poesia na carne

e sabe quem é

e é mulher

visível, saída da terra enterrada

saída da casa trancada

saída da sombra

e se perguntarem se importa ser mulher

eu digo sou

e se perguntarem o que é mulher

eu respondo sou

e se mandarem calar a mulher

eu grito sou

e saio mulher

de mãos dadas com outra.

(Thalita Coelho)

sep 1 2017 ∞
sep 1 2017 +