Yongbok não imaginava que se continuasse flertando com aquele cara no bar ele tentaria encontrá-lo depois, muito menos que tivessem tantas coisas em comum, a ponto de experimentar suas entranhas.

Não que Yongbok estivesse arrependido por não ter convidado o cara do bar para irem ao karaokê na noite anterior, mas se ele soubesse o que aconteceria na montanha naquela tarde chuvosa, com toda certeza, teria escolhido algo diferente. E embora não fosse a primeira vez em que ele tivesse morrido, aparentemente era a mais estranha. Os cães selvagens cheiravam o seu corpo quebrado e ensanguentado, depois de terem perseguido, derrubado e maltratado boa parte dele, agora cutucando-o com seus focinhos úmidos, em que cada ponto de contato era um novo choque tão intenso que parecia que havia realmente chegado ao fim, a respiração deles dilacerando-o onde o sangue pulsava de muitas fraturas expostas.

Ele sentia a língua áspera passando na curva do cotovelo e o toque afiado de um dente nas suas costelas, mas de repente eles pararam, pareciam estar esperando que ele morresse antes de começar a comê-lo ou que algo mais interessante houvesse roubado a sua atenção. Yongbok ficou aliviado por não ser obrigado a se sentir sendo devorado, permanecendo ansioso pelo ápice, pois em breve estaria “morto” e teria que afugentá-los sozinho de todo modo. Pelo menos até que acordasse de novo, após os pedaços de si mesmo fossem capazes de se recuperarem lentamente.

"Acho que você não é humano", disse a voz familiar, enquanto Yongbok desejava que fosse apenas a sua última alucinação. "Estou acostumado a encontrar pessoas mortas nesse trecho da floresta por causa dos meus cachorros, e sinceramente fiquei desesperado quando ouvi comentários sobre você ter subido por aqui ontem..", ele fez uma pausa na fala, crispou os lábios e sorriu - o tipo de sorriso que poderia deixar qualquer um com as pernas fracas antes mesmo de começar a correr, sentindo o seu coração sendo espremido pelas próprias entranhas. "Não poderia ser verdade, entende? Procurei por todo lado sem qualquer sinal seu ou dos cachorros, porra, essa área é grande demais. E eu gostei de você, queria te levar para jantar, mas percebendo agora pelo seu cheiro, e como meus cachorros reagiaram ao te encontrar.. e por ainda não ter morrido depois de cair de tão alto e de sido rasgado assim.. acho mesmo que você não é humano, Yongbok".

Ele deu alguns passos pelo chão úmido e lamacento da floresta antes de encaixar-se na visão do seu rosto paralisado, e por mais que Yongbok soubesse que outras criaturas como ele existiam, jamais imaginaria que Hyunjin fosse ser uma delas também. Ele segurou a sua mão em meio àquele cheiro intenso de sangue enquanto o corpo de Yongbok dava os primeiros sinais de estar com muita sede, ansiando pela necessidade de regeneração ao tremer suavemente. Moscas pequenas voavam ao redor de sua cabeça, aterrissando no seu rosto, e ele sentiu cada uma delas como se a pele da face tivesse se tornado supersensível. Contudo, o toque mais extasiante ainda era dos dedos de Hyunjin na sua cintura ao virar Yongbok de barriga para cima - e ele sentiu o calor subindo pelas maçãs do rosto, envergonhado por suspirar afoito quando recebeu uma carícia no meio das pernas, pois, de alguma maneira, morrer sempre lhe deixava excitado pra caralho.

“Poderíamos ter feito isso ontem, mas você quis bancar o difícil”, Hyunjin continuava sorrindo, mesmo depois de morder e rasgar o próprio pulso com os dentes afiados, os olhos se transformaram em pontos de luzes vermelhas em meio a quase escuridão, e ainda assim Yongbok conseguia enxergá-lo perfeitamente bem, já que os seus hábitos eram completamente noturnos. E o seu erro talvez tivesse sido pensar que uma tarde chuvosa não o enfraquecesse tanto até ser encontrado de maneira tão lastimável. Hyunjin apertou a ferida aberta, derramando sangue por entre os lábios de Yongbok, assistindo a sua carne inteira se regenerar.