ㅤㅤㅤRepensei diversas vezes na minha cabeça sobre como deveria começar esse texto, como se pode ver não cheguei a ponto algum. Vou apenas tentar dizer o que preciso e o que sinto, pra que tudo fique mais claro e entendido entre todos que fazem parte e são importantes na minha vida.ㅤㅤㅤ

ㅤㅤㅤ ㅤㅤㅤDesde os meus 10/12 anos eu me via em um conflito interno, algo que me devastava tanto que me fazia perder a cabeça e me odiar, eu era só uma criança, sei disso, mas aquela confusão fazia com que pensasse que merecia aquele sofrimento, porque "se eu fosse normal" não iria ter toda aquela bagunça dentro de mim. Com meus pais meio distante, me via em um beco sem saída e sozinha lá. ㅤㅤㅤ

ㅤㅤㅤ ㅤㅤㅤQuando me mudei para Recife, vim conhecendo melhor tudo e além de ficar mais próximo a minha mãe, me via com um certo apoio novamente, mesmo que a confusão ainda permanece, eu estava bem. Além de tudo, quando me mudei, passei a ter uma certa liberdade a mais com a internet, fiz um Twitter, conheci bandas, pessoas, li histórias, experiências e naquele meio eu fui crescendo mentalmente, mesmo que não por completo, tive um grande avanço.ㅤㅤㅤ ㅤ ㅤㅤ ㅤㅤㅤPor mais livre que me sentisse, ainda tinha coisas que me conturbavam, talvez a pressão da sociedade e família, sentia como se faltasse algo, para que isso parasse e eu pudesse ser mais livre? ㅤㅤㅤ

ㅤㅤㅤ ㅤㅤㅤA confusão em minha cabeça nunca tinha ido embora (e ainda não foi, ela está aqui e sempre vai estar, por mais que não goste), em meados de 2015 passei a conversar e descobrir sobre novos grupos, conheci movimentos e não sei... senti certo acolhimento? Já tinha posto em minha consciência que gostava de meninas, mesmo que isso ainda fosse confuso para mim, e eu ainda não aceitava direito o fato.ㅤㅤㅤ

ㅤㅤㅤ ㅤㅤㅤAo meu redor só tinha frases de fontes preconceituosas e machistas, por mais que no Twitter isso fosse mais raro, no meio "real" era/é estupidamente presente, me trazendo mais roupa suja. "Meninas não podem deixar os pelos crescerem", "meninas não pode falar palavrão", "usa um salto ou uma sapatilha, se valorize", "usa um vestido", "deixa seu cabelo crescer, assim vão pensar que você é um menino", "meninas não podem gostar de meninas", "meninas não entendem futebol", etc etc etc etc. Eu cresci em meio a isso, foram 15 anos de frases e mais frases como essas jogadas em mim, então me veio ao pensamento "então se eu sou tudo isso que uma menina não deve ser, eu sou um menino?" Me "confundiram" diversas vezes na rua, eu nunca me incomodei, na verdade me sentia até confortável.... ㅤㅤㅤ ㅤㅤㅤ

ㅤㅤㅤDos meus 14 anos pra cá, eu venho me "orientando", descobrindo, entendendo, o mundo queer, ignorando todas as frases toscas que era obrigada a ouvir. Deixando o preconceito de lado, me formando e formando minha personalidade longe das mentes obscuras dos meus parentes.

ㅤㅤㅤ ㅤㅤㅤ ㅤㅤㅤQuerendo chegar logo ao que interessa,... Desde sempre, eu tive certo desconforto com meu corpo, principalmente seios, nunca gostei deles (e ainda não gosto, não vejo a hora de tirar ou reduzir), somando essa minha certa disforia, com os fatores anteriormente citados, mais o fato de que eu fico confortável com pronomes masculinos, me veio à cabeça "ei tho, você não é cisgênero não hein". Assim, fui de ela > os dois > neutro > ele. Dizendo "eu sou transgênero". ㅤㅤㅤ ㅤㅤㅤ

ㅤㅤㅤContudo, de alguns meses pra cá minha mente, que nunca tinha deixado de ser uma máquina de lavar com roupas brancas e coloridas, ficou mais bagunçada ainda, eu ficava "será que é isso mesmo", "às vezes eu não ligaria ser vista como menina, na verdade, eu queria ser vista como menina" e então se eu tinha me grande certeza de que era trans, porque infernos eu tava martelando isso novamente?ㅤㅤㅤ ㅤㅤㅤ

ㅤㅤㅤVoltando um pouco no tempo, cheguei a conversar abertamente com minha irmã sobre eu "ser trans" e ela disse para mim que achava que era só uma confusão minha, que eu não aceitava as coisas e que ela só ia me tratar no masculino quando "tivesse um diagnóstico", isso me afetou tanto e principalmente meu orgulho, eu sofri por meses calada porque não queria mostrar minha fraqueza com essa confusão que estava, não queria que ela soubesse que talvez estivesse certa. Eu já tinha conversado com todos, com ela, eu não queria decepcionar ou confundir mais ninguém, não queria que alguém se sentisse ofendido porque eu já ter dito que era algo, mas na verdade fosse só uma confusão da minha cabeça.ㅤㅤㅤ ㅤㅤㅤ

ㅤㅤㅤMe guardei por meses com esse medo e confusão, mas chega a um ponto que não dá mais e eu explodi, eu não aguentava mais essa confusão, porque eu queria e quero ser vista como uma menina. Eu me sinto TÃO errada por ter dito aquilo antes, não por preconceito, mas por conhecer pessoas que realmente são, e que não quero magoa-las, me sinto errada por ter dito, mas eu não as represento, eu me sinto culpada e horrível e tudo que quero é pedir tantas desculpas.ㅤㅤㅤ ㅤㅤㅤ

ㅤㅤㅤNo final, dá pra entender onde quero chegar certo? Todos o preconceito com que cresci, me fez pensar que eu era incapaz de fazer as coisas ou gostar das coisas, por ter nascido uma garota. E nossa, eu me sinto muito mais livre em ter visto que não é assim que são as coisas, eu não sou incapacitada de algo pelo meu gênero e nunca vou ser, não importa o que digam.

ㅤㅤㅤCreio que não falei nem metade do que queria, mas vou contar uma pequena história.

ㅤㅤㅤEu nasci no dia 12 de junho de 2000, as 16h, na cidade de Caruaru - PE, me batizaram e registraram como Mariana Galdino Arruda Santos. Preciso de dizer que Mariana não é alguém de quem gosto, não pela confusão que tudo foi, até porque ali já tinha traços da Tae que tava pra surgir, não penso em mudar de nome ou algo assim, não no momento, mas Mariana e Tae, são pessoas totalmente diferentes. Mariana perdeu amigos por besteiras que fez, ela errou, ela foi mesquinha, egotista e totalmente errada, eu não a culpo tanto, ela não conhecia tudo, nem eu conheço, mas Mariana em partes me deixava presa a algo que não me fazia bem.

ㅤㅤㅤHoje eu sou só Tae/Tê, meus amigos me tratam assim e isso bem faz excepcionalmente bem, porque por mais confuso que tenha sido, eles me aceitaram e permaneceram. Eles podem não me amar como eu os amo, mas isso não afeta em nada eu os protegeria a todo custo.

ㅤㅤㅤNão sei que rumo isso levou espero que não tenha ficado tão confuso, e só quero finalizar com:

ㅤㅤㅤEu sou só eu, talvez pode me chamar por Tê ou por Ma, eu sou uma menina, eu sou feminista, eu sou bissexual e tenho muito orgulho disso, por mais que tenha passado por toda uma confusão, o que me importa é o agora.

mar 16 2017 ∞
mar 19 2017 +