Gosto de acordar e ficar ouvindo as gotas de chuva. De dormir abraçada em travesseiros como se fossem gente, de lembrar sonhos bons. Gosto de olhar para paredes nuas e imaginar nelas um mundo inteiro ou só pensar em nada. Gosto de focar e desfocar objetos, até meus olhos cansarem e a cabeça doer. Também gosto de como as luzes se comportam quando choro, principalmente andando de carro. Gosto de achar que me apaixono, mesmo nem estando apaixonada. De estralar o corpo todo, de me espreguiçar como se fosse tocar o céu, de massagem nas costas, de canto de passarinhos, de aromas exóticos, de deitar em sofás, de trocar de roupa mil vezes, de fazer cócegas, de abraçar, de ser abraçada, de fazer carinho. Realmente gosto de ser carinhosa, como quando a pessoa se encaixa em mim e eu me sinto livre para senti-la, cheira-la e roçar as unhas em sua pele. Gosto de dias nublados, de dias ensolarados, de dias com vento. Gosto de dias. Gosto de noites agitadas. Gosto dos outros, não gosto de mim. Gosto de sorrir, chorar, sofrer, cair, viver, sentir, gritar, falar, ouvir, conhecer, descobrir: tudo intensamente. Gosto de coisas intensas. Qual a graça de viver uma vida mais ou menos? Gosto de tudo, gosto de nada, mudo meus gostos, desmudo novamente. Gosto de finais avassaladores, mas pra cá não consegui pensar nenhum. Não gostei disto.