Uma lista das músicas que, em algum ponto da vida, foram tão marcantes para mim que se fundiram às minhas memórias e minha identidade, ao ponto de quase me fazerem reviver determinadas experiências e épocas. Embora todas tenham sido importantes, essa não é uma lista de minhas músicas preferidas - algumas entram nessa categoria, outras não. Tentarei organizá-las por ordem cronológica.
- Angra - Rebirth: minha primeira banda de metal (como boa brasileira que sou)! Obviamente eu já tinha ouvido Iron Maiden, mas achar que metal era só aquilo era justamente o que me fazia não ter o menor interesse pelo estilo. Até que eu conheci o Angra e foi quando saí do mundo das bandas que bombavam na MTV (Linkin Park, aham). Acredito que a primeira foi Rebirth (mas pode ter sido Bleeding Heart), lá em 2003. Essa música lembra tanta coisa que fica difícil articular. Nessa mesma época, conheci um grupo de pessoas que alterou minha vida de uma forma que eu jamais teria imaginado. Foi quase como se minha identidade tivesse começado a se formar a partir daí. E ter descoberto o Angra já na fase nova me fez, claro, ter um apego muito maior pelo Edu que pelo André - de fato, diria a qualquer um que o Edu era obviamente muito melhor (claramente, eu era meio surda aos 13) e tinha até uma paixãozinha platônica. Naquela época menos prática da vida, em que não existia youtube e a internet era discada, pra assistir vídeo a gente tinha que passar horas baixando no Kazaa. Eu até tinha gravado um cd com os clipes que eu baixei, de tão preciosos que eram. E um dos vídeos que eu mais gostava era o de uma apresentação do Angra no Jô Soares, em 2002, em que eles tocavam Rebirth - e eis que tinha um momento, logo depois de dizer "a sinner regreting" em que o Edu passava a mão no cabelo e dava um sorriso que me deixava toda arrepiada sempre (e fui agora rever o vídeo, quase 10 anos depois, e não é que o sorriso é bonito mesmo?! haha).
- After Forever - Leaden Legacy: não foi a banda que me iniciou no mundo do metal, mas foi a que me iniciou no tipo de metal que me agradaria mais (como eu acabei ouvindo o After Forever antes mesmo de conhecer o Nightwish é um mistério). Minha primeira banda de vocal feminino e, apesar de nunca ter sido minha banda preferida (embora eu continue achando os primeiros álbuns deles fenomenais), até hoje a Floor é minha vocalista preferida. E a primeira música que eu ouvi foi exatamente essa. Me faz pensar em muita coisa, mas a primeira lembrança que me vem é a das várias vezes tentando imitar aquele "uuuuu-uuuuuuuuuh-huhuhuhu" do refrão (até minha mãe fazia! haha).
- Epica - Façade of Reality: foi a segunda música do Epica que eu ouvi, e ela rapidamente ultrapassou a primeira (Cry for the Moon) em minha preferência. Durante muito tempo foi a minha preferida da banda, que durante muito tempo foi minha banda preferida, aliás. Isso para mim, aos 13 anos, era o que existia de mais foda extremo no mundo da música ("our desire to die is stronger than all your desire for life"!!!). Me traz algumas lembranças felizes de uma época muito adolescente. Eu me achando muito séria e entendida por ser fã de uma banda que fazia um som para poucos (metal, vocal lírico, gutural, orquestra, coral? e tudo combinado tão bem?!), tinha uma proposta diferente (isso aconteceu antes do Nightwish de alguma forma ganhar a MTV e bandas "góticas" de vocal feminino começarem a surgir embaixo de cada pedra na rua), letras muito complexas (a forma do Mark abordar religião acabou realmente me influenciando nessa época) e praticamente desconhecida (eles tinham acabado de lançar o primeiro cd). Me lembra da época que eu baixava música no mIRC e entrava em fóruns de RPG. Quando a gente achava que o Mark e a Floor eram irmãos porque os dois chamavam Jansen. Muito feliz. Foi legal acompanhar o Epica desde o início, e a banda vai ter sempre um valor especial, mesmo que eu não goste de todos os cds e hoje até ache que eles passariam melhor sem a voz da Simone (naquela época eu usava foto dela de avatar, obviamente).
- The Gathering - Saturnine: lá estou eu, 16 anos, sentada com um livro aberto no colo, em uma área escura demais para ler, esperando, esperando, esperando. O mundo cheira a chuva. Até que um cheiro característico quebra a cena e tudo vira de pernas para o ar por um segundo. A mesma situação se repetiu algumas vezes. É engraçado, essas memórias são boas quase em totalidade, mas essa música, por algum motivo, se conectou exatamente à parte difícil delas: toda a ansiedade absurda que eu costumava enfrentar até algumas coisas mudarem por aqui.
- Lacrimosa - Halt Mich: achava o estilo da banda sensacional e sempre gostei do vocal do Tilo Wolff, mas nunca tinha sido muito fã do Lacrimosa, só gostava de algumas músicas. E essa era uma das minhas preferidas deles, a que eu mais gostava do Elodia. Lembro de ter comentado isso com um amigo, que gostava muito mais da banda que eu, e em uma época que eu estava sem computador (e por isso meu acervo de músicas tinha sido drasticamente reduzido), ele me emprestou o cd. Acabou que a música até hoje me lembra dele, nossas longas conversas ao telefone, a mania de usar ~ pra enfeitar tudo, os diários, e todo o apoio que a gente se deu em dias mais trevosos. As nossas longas tardes de estudo, que se seguiram a essa época, acabaram pegando uma cara de mpb (deve ter sido toda aquela História).
- Pain of Salvation - Imago: final de tarde, uma luz azulada entra pela janela, paredes meio descascando e um quarto que já começa a se tornar escuro. Além disso, há o som distante de um chuveiro ligado e um aroma agradável é trazido pela brisa fria. Um anel de tucum (coco? enfim) e uma caixinha de madeira. Essa música no repeat. Engraçado é que tenho a impressão de que essas coisas não aconteceram no mesmo dia, mas de alguma forma a memória ficou assim (ou talvez tenha mesmo sido assim). Foi a primeira música do Pain of Salvation que eu ouvi, e era a versão ao vivo (do vídeo). E eu me apaixonei completamente por ela, só para pouco depois, com exceção de Iter Impius, me decepcionar muito com a banda e ignorar o restante das músicas por quase dois anos, haha. Durante muito tempo ela teve somente a sensação doce e delicada daquele dia somada ao meu gosto por folk music, mas com o passar dos anos foi ganhando uma série de outros elementos que não daria para descrever. O vídeo mostra o lado do Daniel Gildenlöw que tem minha preferência e admiração absoluta, o que conquistou o meu amor pelo PoS. A música, mesmo com os vários novos sentidos, ainda mantém a mesma sensação de agradável leveza e simplicidade do início.
- Angra - Rainy Nights: algumas músicas me despertam memórias, sensações tão nítidas de contextos passados, que por vezes se tornam fragmentos valiosos de autoconhecimento. Rainy Nights é uma delas e uma das minhas preferidas do Angra. Na época eu era realmente viciada pela banda, mas ainda não tinha ouvido essa, até que um cara que se aproximara de mim há uns poucos dias me enviou pelo MSN. E a música me lembra dele até hoje, de como éramos anos atrás, dos momentos que passamos juntos e como tudo era tão desconcertante para mim no início - e, acima de tudo, me lembra de como ele salvou minha vida (e ele provavelmente nem imagina a extensão disso) e do amigo valioso que ele é até hoje. Essa música me lembra as pessoas que me ensinaram o que é amizade, e o que é amor - compreensivelmente, ela automaticamente me desperta carinho. Gosto também da sensação forte de madrugada chuvosa que ela me passa, que, acho, vem não apenas do nome, mas do próprio som... até desconfio que era noite e chovia quando a ouvi pela primeira vez. A chuva, assim como a lua, e o mar, é algo que tem um sentido muito forte para mim. E, além de tudo, adoro a voz do André Matos nessa música, e adoro alguns trechos da letra: "so understand, my friend, sometimes there's rain, sometimes there's breeze..."
- Narsilion - Existencia Encantada: anos atrás, um dos meus passatempos era trocar músicas com uma amiga no MSN. Apresentamos diversas bandas uma a outra, algumas até hoje tem a sensação de características da nossa amizade e de quem nós éramos para mim. Recebi essa dela, em algum ponto de 2007, junto a outra ótima música da mesma banda. A recomendação dizia basicamente "escute, é você". Não consegui entender como ela tinha me identificado em algo tão belo, fiquei extremamente desconcertada, até ouvi a música com desconfiança. E isso fez tanto por mim. Além de ter me introduzido em um estilo musical muito bonito, que eu amo, e que tantas vezes me traduziu completamente em som - "etéreo" é provavelmente o rótulo mais apropriado que eu já vi para um gênero musical -, essa música me acompanhou em períodos de redescoberta de mim mesma e da beleza da vida. Hoje ela carrega uma série de recordações e significados, que mal podem ser descritos.
- Trobar de Morte - El vals de las hadas de otoño: negras silhuetas de árvores em um mundo totalmente escurecido - exceto pelas estrelas - às margens de infinita estrada, guardando provocações dos mistérios que se encerram em seu interior indecifrável a distância. E o meu maior desejo é descer do carro e procurar. Gosto do escuro. Certas memórias nunca deixarão meus olhos. A escolha da música foi quase por acaso, todo o álbum me transmite sensações de similar encanto.
- Acid Bath - Scream of the Butterfly: essa música me passa a sensação de um final de tarde muito nublado e escuro, antes das luzes da cidade começarem a se acender. E então uma flor, em meio ao concreto. Cinza e vinho. Acho interessante que me venha a imagem de uma flor, não da borboleta do título. Me remete a algo bonito e delicado, e ao mesmo tempo frio e sujo. Por algum motivo, o fato de ser a única música dessa banda que realmente me chama atenção dá uma força maior a ela.
Adicionarei mais a medida que for recordando (e sentindo vontade).