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୨୧
“quando me pergunto
se você existe mesmo, amor
entro logo em órbita
no espaço de mim mesma, amor...
será que por acaso
a flor sabe que é flor
e a estrela vênus
sabe ao menos
por que brilha mais bonita, amor?”
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revivescem as sazonais espatódeas em rebentar cálido e mimoso... bocejam e desapontam, lentíssimas, das ferinas línguas alinhando-lhes os cálices petalinos, tal camuflassem-se em fadinhas campesinas alvejando o primeiro adejo, tal camuflassem-se em morosas meninas despindo-se de cogumelos-vestidos e nascendo, floridas, à luz do riso e do conto-da-carochinha... as arianas odes amainam da neblina e fabulam, alíferas, o ocaso em matina, regalando a orbe azulínea em mirífico equinócio: benzia-se, então, um estranho outono, a castanha alfaia do ócio, o declínio do relento nimboso, elegendo por germinar-se – oh, melífero, melífero delírio…! – no desenlace morto das murtas e mirtilos de agosto. questionar-se-iam, em acanho, os seres terrinos;
“por que outonas, ladina deusa...? por que flavesces d’abóbada belas-emílias e orquídeas, por que hibernas o mormaço e a friagem em lucernas tímidas, logo agora, na oitava sopraniça, logo agora, enquanto o sol decide enlear as espirais e virginais estrelas; por que honras, ladina deusa, a estação orvalhada em augúrios enquanto uma filha de mercúrio?”
a pergunta, entretanto, nas linhas da fauce perecera, pois esmorecia, n’um paulatino pouso unido à nevoeira mercurina, uma recém-nascida embuçada em pluma puerícia… uma cândida réplica a pernoitar, vagarosa, sua tenra face nos brotinhos d’eglantine da campina, com as róseas lenturas peneirando pelos miolos dos lírios servindo-lhe, nectáreo leite, à boca pequenina – oh, que meigo o haurir dos lábios da flor alpina, singelo alento implorando, enlevo de neblina, uma láctea brisa à face linda! –, e a cerúlea dádiva pálida era, porquanto tratava-se d’uma infante élfica, aventada pelo hálito do bambino planeta; via-se no dourar ligeiro de suas melenas e de suas retinas os resquícios da sidérea vida, mas a tez enlaçando-lhe a carne era líria! mirá-la era apanhar ao colo as tintas adereçando as auroras outoniças, alviáurea, alviáurea, alviáurea, ar açofrado pelas lágrimas calejadas d’ebúrneo astro… e batizava à esta elfa ínfima, à esta criancinha com anelos de princesa, uma copa aguando-lhe a seiva, cantigando-lhe, em timbre de cervos almiscarados pelo ruço vento a enunciar cantilenas, em timbre de pomba-carpideira entoando a ninar no ninho de seca flama, em timbre d’alvas cerejeiras cravejadas na madeira de faia-branca: “bianca, bianca, bianca…”
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a enlaçadura de letras romanescas enunciara a lavadura d’esta elfa esbelta, d’esta efígie em encarnada seiva avivando-lhe as veias e em suave alvura vertendo-lhe a pele. sacra na consoante benigna cingindo-lhe os beiços, nas vogais idílias e amorísias deslizando pelo céu da boca e orando ao solene seio, e na rima cipriana desenlaçando, afável, o esputo adocicado d’aqueles lírios-lábios! bianca, bulício d’arrepio delicado... bianca, sagrada n’alva defluindo de seu batismo e n’ouro efluindo de sua retina... bianca, levando mercúrio em amuleto ao peito, santíssima água a retinir, tilim, tilim... tilim, tilim..., e a gema da bonomia sangrava da sépala de virgens açucenas, melando as calêndulas com o tingir de seu imo puníceo e hialino, lavando o mundo enodoado com os impolutos frutos de sua medula d’esfinge opalina. assemelhava-se à pinturas renascentiças, com o louro mastigando suas mechas resvalando-lhe as espáduas e as pestanas estilando-lhe as lágrimas, autunando a álgida aridez d’agosto com olorosos sândalos, pudica natura estilando, sonantes sonhos, a sua clave-de-sol, “dó, mi, si... dó, mi, si...”, uma balada vinda d’um acanhado brio, nectáreas árias em nérolis, nérolis caindo... abocanhava sementes de romãs enleando-lhe às cadentes laranjeiras do elísio, regando-se em mel – bianca enformara-se austral coré, noiva dos defuntos espigando, vassalos, às grinaldas de seu outono.
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“vimos arder tantas vezes a estrela d’alva beijando-nos os olhos
e sobre as nossas cabeças destorcem-se os crepúsculos
em leques rodopiantes.
as minhas palavras choveram sobre ti acariciando-te.
amei desde há que tempo o teu corpo de nácar branco.
creio-te mesmo dona do universo.
vou trazer-te das montanhas flores alegres,‘copihues’,
avelãs escuras, e cestos silvestres de beijos.
quero fazer contigo
o que a primavera faz com as cerejeiras.”
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