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“sim, eu preciso de ti, meu conto-de-fadas. pois és a única pessoa com quem posso falar sobre a sombra de uma nuvem, sobre a canção de um pensamento — e sobre como, quando fui trabalhar hoje e mirei uma girassol esguia na face, ela sorriu-me com todas suas sementes.”

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୨୧

“é ela quem esparge em gotículas o orvalho brilhante,

deixado pela brisa noturna. como cintilam, essas lágrimas,

que tremem sob seu peso cadente! a gota vacilante

estreita sua esfera para suspender sua queda.

vede, a púrpura das flores revela seu pudor

o orvalho destilado pelos astros, no transcurso das noites

serenas, libera, pela manhã, as dobras de seus vestidos úmidos,

seus seios virginais. tal é a ordem da deusa:

é na umidade matinal que se casam as rosas virgens.”

acirandava-se o mel por entre a cimeira mordida da esguia sacerdotisa, ensebando-lhe a seda da fenda, lambiscando-lhe – viperina algia – em paliada ardência a língua… a melissa abocanhava a tez do alveário com o fulgor que apolo abocanha os dias, envidando o velado anelo do devaneio, encalçando o velado adejar do venturo, lançando-se à sacarina carente de verve e cândida em açúcar provinda dos vaticínios pingando, pingando, pingando dos melados delírios… medrava ao pálido mento e manava à apetitosa pele do pescoço a cera – pois mesmo o mel encarava-lhe faminto, mesmo a colméia tinha a castiça beldade enquanto presa –, beijando em acúleo as clavículas finas, caçando a abelha aberta adereçando-lhe em véus o ílio, hiante pelo rebento nacarino salientando do virgem lírio –

mas o estopim d’outra boca cessara a caminhada de seu ouro melífluo! – abrira as gemas âmbares enleando insetos que eram-lhe os olhos, e os retilíneos cílios estremeceram perante os lábios lambeando-lhe o venusto monte ungido; encarava agora o alucinar da flor de seu estupor, a pastelada e acastanhada moça vergôntea de seu desvario – dedilhando-lhe, dedilhando-lhe com a lasca viva e petalina – alongada e rosada –, dedilhando-lhe com os dedos harpeando-lhe tal as ninfas enamoradas das liras – tinha, tinha de ter uma lira, ah!, uma desarrimada harpa pequenina, abandonada, às ervas deitada, enquanto a sua musicista engolia os laivos de mel eivando a melissa, afanando o licor ressumante com o órfico apetite alusivo às poetisas, ah – pleiteando e matando à dentadas os espinhos da delícia, pois sua quimera amorísia era devota à sacerdotisa, pois sua amarílis lírica era devota apenas a possuí-la, possuí-la, possuí-la…

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a presbítera lambeada pel’alambra, sigilosa em mantilhas por pólen tingidas – sedenta pelo vício às viscosas miragens – embebia-se na letargia de espectar seu espectral milagre, sua irreal menina, sua maestra enamorada por levar aos dentes as gotas do néctar… a melissa era d’âmbar, a utopia era de pérola – a sacerdotisa era outoniça, sua crente, primavera – manava mel dos beiços, a beata melina, ao que a profana mocinha aljôfar vertia... e as melenas suas ataviavam-se de carmínea tinta, anelando-se em desejoso louro, enquanto a faminta era de cachos de trigo fosco, ondas ocas, ondas poucas, uma dessemelhança à fulva juba… a melissa, beldade em carne, a melissa, um infindo brasear de bondade, a melissa, um encarnar de asas divinas, a melissa vestia-se de musa apolínea… “Nívea”, ciciava o sonho, libando as méleas lianas, “chamas-te Nívea”... Nívea paliava-se deífica sob as paliativas lambidas da mulher aos seus pés, da sua serva setembrina que lhe banhava – ah! – e lhe mirava tal anuviasse, ao seio, as brancas nuvens das matinas –

gorjeavam os melros, gorjeavam as pombas e gorjeava Nívea, ébria e lhana, encanecendo ao cume da ledice, abanando o corpo de alvas colinas, estremecendo as auroreais linhas – neve levada a mel, leceu que não amara às cimérias limiares de hades, mas marinha-se em livoroso gozo às abóbadas, destarte!... “Nívea, Nívea, Nívea”, em mantra leve adulava-lhe sua menina, a qual tinha no branco brilhando na fenda da sacerdotisa o desfrute das próprias regalias – líquido límpido, lacrimando pela rósea cúpula e pesando a língua d’aquela religiosa e palpável fantasia... Nívea era álamo arvorando à alva áster da boca de quem lhe meneava e lhe possuía; desmaiando em prazer pela desatina, ela engrandecia e escorria; em súplicas gemidas em dor sopraniça, ela sucumbia, ela titilava em estado de graça pel’apícola que – pois sua ilusão elegera o evo – em eterno, eterno lhe alucina, lhe dedilhando n’uma zelosa fé que jamais sequer cariciara uma lira...

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quem era aquela peregrina, a carnal veneta afanando as lágrimas de sua euforia? quem era aquela, mansa e macia, uma eva venerando-lhe e serpenteando-lhe tal fosse fruto e tal fosse Deus – melando-lhe o mel com a pálida saliva, tal a alvura de seu clímax fosse a mesma dos lírios de Santa Maria?, quem era, crente poetisa, pondo-lhe aos lábios tangendo-lhe tal fosse elegia? Nívea dentara a vianda do mel e ela enternecia em pétalas de lótus, o palato amarrando-a em relíquia,

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“ao virar a esquina

atrás de uma cortina

me perder

no escuro com você...

fogo na fogueira

o seu beijo

e o desejo em seu olhar

as flores no altar

véu e grinalda, lua de mel

chuva de arroz e tudo depois...

dama de honra pega o buquê

ninguém mais feliz que eu e você”

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jul 9 2021 ∞
aug 4 2021 +