Se é verdade que na Europa de antanho, e até o século XVIII (os melhores exemplos vêm da França, a libidinagem propositada não era incompatível com lampejos de comédia, com uma sátira vigorosa ou mesmo com a verve de um bom poeta num momento de devaneio lúbrico, também é verdade que o termo pornografia hoje em dia está associado à mediocridade ao comercialismo e a certas regras estritas de narração. A obscenidade precisa estar acasalada com a banalidade porque todo prazer estético deve ceder lugar à simples estimulação sexual, para agir diretamente sobre o paciente,exige o emprego das palavras mais vulgares. [...] Assim, nas obras pornográficas, a ação tem de limitar-se à cópula de lugares-comuns. O estilo deve consistir necessariamente em uma alternância de cenas sexuais.O estilo, a estrutura, as imagens não podem jamais distrair o leitor de sua tépida concupiscência. O romance deve consistir necessariamente em uma alternância de cenas sexuais. As passagens intermediárias devem ser reduzidas a meras suturas narrativas, pontes lógicas da mais simplória arquitetura, breves explicações que o leitor provavelmente pulará mas que precisa saber que existem para não se sentir espoliado (....). Além disso, as cenas sexuais devem ir num crescendo, com novas variações, novas combinações, novos sexos e um aumento constante do número de participantes (numa peça de Sade, até o jardineiro é convocado), de tal modo que os últimos capítulos do livro contenham a maior dose de obscenidade que os primeiros.