- que eu seja como a que tece o pano na floresta, profundamente escondida.
- que eu possa fazer o meu trabalho sem interrupção.
- que eu seja uma exilada, se é este o sacrifício.
- que eu conheça a procissão sazonada do meu espírito e do meu corpo, e possa celebrar os quartos em cruz, solstícios e equinócios.
- que cada lua cheia me encontre a olhar para cima, nas árvores desenhadas no céu luminoso.
- que eu possa acariciar flores selvagens, cobri-las com as mãos.
- que eu possa libertá-las, sem apanhar nenhuma, para viver em abundância.
- que meus amigos sejam da espécie que ama o silêncio.
- que sejamos inocentes e despretensiosos.
- que eu seja capaz de gratidão.
- que eu saiba ter recebido a alegria, como o leite materno.
- que eu saiba isso como o meu cão, nos ossos e no sangue.
- que eu fale a verdade sobre a alegria e a dor, em canções que soem como o aroma do alecrim, como todo o dia e na antigüidade, erva forte de cozinha.
- que eu não me incline à auto-integridade e à autopiedade.
- que eu possa me aproximar dos altos trabalhos da terra e dos círculos de pedra, como raposa ou mariposa, e não perturbar o lugar mais que isso.
- que meu olhar seja direto e minha mão firme.
- que minha porta se abra àqueles que habitam fora da riqueza, da fama e do privilégio.
- que os que jamais andaram descalços não encontrem o caminho que chega à minha porta.
- que se percam na jornada labiríntica.
- que eles voltem.
- que eu me sente ao lado do fogo no inverno e veja as achas brilhando para o que vier, e nunca tenha necessidade de advertir ou aconselhar, sem que me peçam.
- que eu possa ter um simples banco de madeira, com verdadeiro regozijo.
- que o lugar onde habito seja como uma floresta.
- que haja caminhos e veredas para as cavernas e poços e árvores e flores, animais e pássaros, todos conhecidos e por mim reverenciados com amor.
- que minha existência mude o mundo não mais nem menos do que o soprar do vento, ou o orgulhoso crescer das árvores.
- por isso, eu jogo fora minha roupa.
- que eu possa conservar a fé, sempre.
- que jamais encontre desculpas para o oportunismo.
- que eu saiba que não tenho opção, e assim mesmo escolha como a cantiga é feita, em alegria e com amor.
- que eu faça a mesma escolha todos os dias, e de novo.
- quando falhar, que eu me conceda perdão.
- que eu dance nua, sem medo de enfrentar meu próprio reflexo!
[carta de beth rae à tessa, glyn... e também à mim! e quem sabe, talvez à você.]