no dia 28 de dezembro de 2019, eu decidi que dançaria pra concluir o ano com uma sensação boa. o ponto é que eu percebi que não adianta querer performar uma coreografia difícil e rápida (como hala hala de ateez) depois de tanto tempo sem dançar ou se alongar. coreografias de grupos masculinos requerem força e controle do corpo, eu não tinha nada disso naquele momento, e quando a ficha caiu, eu quebrei também. me questionei se eu fui feita pra dançar mesmo, por mais apaixonada que eu seja. por que nada saía igual à minha mente? eu sempre me imagino dançando tão bem e presto tanta atenção nos detalhes da coreografia. na minha cabeça, eu consigo vibrar meu corpo como na beat drop de pirate king, ou mover meus braços de forma leve como em butterfly. não é assim na vida real.

eu lembro de sempre planejar tirar uma horinha do dia pra colocar música e só me balançar pelo quarto, me divertir - igual à menina do buzzfeed que aprendeu a dançar em 30 dias -, só apreciar a música e deixar meu corpo relaxar. esse negócio de querer aprender coreografias difíceis sem preparação prévia me deixou muito frustrada, mas a resposta sempre esteve na minha cara. quando eu me imagino dançando na frente de alguém, eu já tenho conhecimento e treinamento suficiente pra administrar bem qualquer coisa, qualquer passo parece fácil, já que eu acompanho os movimentos tão bem com os olhos.

depois de ter uma crise de choro às cinco da manhã, desliguei a luz e decidi que colocaria believer pra tocar, essa é outra música que me imagino dançando num palco. sabendo que eu não conseguiria performar tudo que planejava, eu simplesmente deixei meu corpo acompanhar cada batida de seu modo, sob as luzes coloridas do clipe. eu girei, joguei os braços com forças, chutei o ar, no momento tudo é um borrão, mas eu lembro de expressar toda minha raiva e frustração com aquela música. era justamente o que eu precisava.

a música seguinte foi the truth untold, eu sonho em dançar essa música como uma dançarina contemporânea, da forma mais leve que eu conseguir. o borrão começou a se dissipar e logo eu tinha parado de chorar, tão concentrada na música e procurando a suavidade que minha mente e meu corpo precisavam. o vídeo era da tradução da música, o fundo dele era azul, eu via a luz azul sobre mim quando não estava de olhos fechados. eu senti tanto a música naquele momento, quando lembro agora sinto vontade de chorar mais uma vez. meu coração se acalmou enquanto eu me movia pelo quarto tentando acompanhar a melodia calma e a letra triste.

sentada no chão, a respiração meio irregular, ouvi a reprodução aleatória selecionar magic shop. confesso que não costumo ouvir muito essa música, mas quando me levantei e li a letra traduzida na tela, tudo fez sentido:

"Quando eu odeio ser eu mesmo / Quando eu só quero desaparecer para sempre / Eu abro uma porta e lá estou eu, no seu coração / Se você abrir essa porta / Eu estarei te esperando lá / Está tudo bem em acreditar, irei te confortar / Nessa loja mágica"

e agora, pesquisando a letra completa, me deparei com isso:

"Eu sempre quis ser o melhor / Então eu era impaciente e ansioso o tempo todo / Me comparar aos outros era o meu dia a dia / A ganância que era minha arma / Me sufocou e se tornou minha coleira / Mas olhando para trás, a verdade é que / Eu não queria apenas me tornar o melhor / Eu queria te confortar / Queria te mover / Eu queria acabar com a sua tristeza e dor"

o que eu estava querendo fazer, sinceramente? como eu posso querer demonstrar meus sentimentos se todas as minhas tentativas são fracassadas pela minha ansiedade e impaciência? como posso querer mostrar algo impressionante se eu mesma atrapalho meu crescimento? a ganância me influenciou a querer ter tudo rápido e por isso eu tropecei.

desde então eu declarei que não almejaria mais ser uma grande dançarina, que excluiria as playlists com coreografias que eu queria aprender, as coreografias as quais eu me imagino dançando, pararia de me ver como uma grande dançarina de hip hop e contemporânea. eu sei que parece duro, é muito difícil que eu vá conseguir cumprir isso, mas naquela madrugada, o dia amanhecendo, eu fiz um acordo comigo mesma.

a próxima atualização do lile's dance diary não vai ser sobre o progresso de alguma coreografia, mas sim como eu me senti dançando alguma música aleatória e como meu corpo reagiu à ela, é isso que eu pretendo fazer. eu preciso entender meu corpo e seguir o ritmo dele. sentir dor nas pernas de tanto dançar parece uma sensação boa, mas quero que o alívio que meu corpo sente sempre que eu danço seja frequente, que eu continue me sentindo apaixonada e capaz de me expressar através dos meus movimentos. no final, é isso que eu sempre quis.

se eu quero demonstrar meus sentimentos através da minha dança, primeiro eu tenho que saber o que tô sentindo, segundo tenho que preparar meu físico pra toda essa intensidade. acredito que um dia eu venha a mostrar todo meu potencial, talvez as cenas que eu crio na minha cabeça venham a se tornar real, desde que eu respeite o meu ritmo e os meus limites. acho que esse é o ponto-chave.

jan 4 2020 ∞
jan 5 2020 +