• Não há nada que você possa fazer comigo que a minha loucura já não tenha feito de forma muito mais eficiente e dolorosa.
  • Chegará o dia em que a nudez dos olhos será mais excitante que a nudez do sexo.
  • Não me vejo nunca nos conselhos do Cristo; nem nos conselhos dos Senhores - representantes do Cristo.
  • Todos sabem que os desertos caminham não sei quantos metros ou quilômetros por ano. Não adianta fugir. Mais cedo ou mais tarde o deserto encontra você.
  • A vida é uma doeça fatal e sexualmente transmissível.
  • Eu tenho a sensação muito estranha de que eu só exista para as pessoas quando estou ao lado delas.
  • Quem quer viver para sempre é um idiota.
  • Eu agora já não choro. O que eu chorei dava para ir daqui até a Índia e voltar, fazer as descobertas todas outra vez, herói de um mar secreto. Tenho uma técnica de choro com silenciador. Só escurra água de rio, nenhuma onda, nenhum barulho. Ninguém me ouve, ninguém me fala do que já não posso ser, o que de mim dizem é mentira que se lança aos teatros com a luz de lágrimas dos foguetes para os que podem fingir que não sofrem. Eu já não sei quando pude.
  • Morro tão intensamente que não sei o que é a morte, pois já estou morto. Fui assassinado. Fui mutilado. Esquartejado. Separado da minha alma. Nunca mais consegui me encontrar. Somos feitos para morrer.
  • Já passei por muitos remédios. Muitos remédios já passaram por mim. Sou uma farmácia ambulante. Tendo a tratar tudo como se fosse um remédio. Procuro a cura. Não a encontro. Tenho remédio para tudo. Gostaria de um remédio que me fizesse esquecer.
  • Não digere as coisas. Simplesmente vomita. Vomita o que inventa. Não inventa nada. É o eterno retorno. Um dia começa igual ao outro e termina igual. É o efeito colateral de não ser querido por ninguém.
  • Ela é tão frágil mas pesa como uma rocha rachada, moída por dentro.
  • O amor tem caminhos estranhos. É a linguagem do sangue. Não é fria nem indiferente. Ou é agonia ou é êxtase, as vezes, os dois de uma vez.
  • O ser humano é estômago e sexo.
  • Mais cedo ou mais tarde chega o momento em que falar e ficar calado é a mesma coisa. Então é melhor ficar calado.
  • A gente mata com o coração. Vai deixando de querer bem. E um dia a pessoa morreu.
  • A vida é um soco no estômago.
  • Eu sou sozinha no mundo e não acredito em ninguém, todos mentem, as vezes, até na hora do amor, eu não acho que um ser fale com o outro, a verdade só me vem quando estou sozinha.
  • Amar é crucificar-se em braços alheios.
  • Não tenho visto ninguém propriamente e acabo por não sentir falta.
  • Não sou forte coisa nenhuma, só perdi o nojo.
  • Tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar a desorientação.
  • A próxima vez que eu morrer vai ser a última. Já morri demais.
  • Embora eu tenha um nome e uma biografia, posso ser qualquer um. Nome e biografia são pistas falsas das emoções.
  • Tenho a sensação de que nasci há muito, muito tempo; arrasto a minha vida, como uma interminável cauda de vestido.
  • O que apodrece também sonha.
  • Sou cheia de buracos, mas eles também me riem.
  • A realidade da vida é sempre o funeral das ilusões.
  • Na vida há dois tipos de viajantes. Aqueles que olham no mapa e aqueles que olham no espelho. Aqueles que olham no mapa estão partindo. Aqueles que olham no espelho estão voltando pra casa.
  • É certo, não passo de um viajeiro. Mas e vós, sereis mais?
  • Minha pele é lisa e branquinha, mas tenho o rosto de uma velha por causa da dor. Minha dor é interna, não curte a pele, não estraga o corpo. Mas meus olhos me delatam. A dor estava ali dentro, os olhos fundos, escuros demais. Dor de quem já viu tudo e não espera mais nada. De quem ficou sozinha a vida inteira, encarcerada em si mesma. De quem já viu o nada, o vazio absoluto, a ausênca de cor e dor e calor e música e sentimento, já foi engolido e cuspido pelo nada incontáveis vezes e será de novo, e de novo, e mais umaz, até a última, quando só sobrar um caroço morto, um esqueleto sem vida. Depois de ver o nada, nada mais espera. A dor salva do nada. Só ela salva.
  • Ela era maior do que si mesma. Pesava-se demasiado. Desajava nem sabia direito o que. Isso enlouquece.
  • Tenho a sincronia de um espantalho. Paralisada. Ninguém precisa se assustar comigo. Eu sou de mentira.
  • Sim, tenho a certeza de que estou a ficar louca outra vez. E sei que, desta vez, não recuperarei. Começo a ouvir vozes e não consigo encontrar-me. O pânico toma conta de mim. Sinto o corpo invadido por um sangue grosso, que não escoa. Corto a pele, e ele não sai.
  • Hoje sei que estou crescida: não tenho fé nem alegria nem confiança em nada do mundo. Só na melancolia das imagens onde a dor volta sempre a arder como no primeiro momento sinto meu coração em sangue e saboreio o desmantelado gosto da vida.
  • Não me sinto feliz, mas posso distrair aquela que sou fingindo ser outra.
  • Uma vida de omissões e minúsculos assassinatos. A vida que sei viver.
  • Choro porque é raiva demais, é dor demais. Amor demais. CHoro porque é tudo tão grande e eu sou tão pequena. Porque tudo existe, porque não existe nada lá fora, nada, nada. Choro por medo, porque tenho muita coragem. Tanta coragem, todos os dias. Choro porque a dor não me deixa respirar e mesmo assim eu respiro fundo. Choro porque sou impotente, porque tudo posso. Eu choro quase sempre, quase o tempo todo, porque o humano que há em mim se atira do parapeito e não há volta. Mas eu volto, todas as vezes. Todos os dias.
  • Tenho medo das pessoas mas gosto delas. À distância.
  • E quem sou eu para criticar as tentativas de suicídio alheias? Eu passo a maior parte do tempo administrando as minhas.
  • A dor vai despedindo as pessoas de si mesmas.
  • Procuro fazer o que se deve fazer, e ser como se deve ser, e me adaptar ao ambiente em que vivo - tudo isso eu consigo, mas com o prejuízo do meu equilíbrio íntimo, eu o sinto.
nov 8 2011 ∞
nov 11 2011 +