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  • "Esse teu corpo é um fardo.
  • È uma grande montanha abafando-te.
  • Não te deixando sentir o vento livre
  • Do Infinito.
  • Quebra o teu corpo em cavernas
  • Para dentro de ti rugir
  • A força livre do ar.
  • Destrói mais essa prisão de pedra.
  • Faze-te recepo.
  • Âmbito.
  • Espaço.
  • Amplia-te.
  • Sê o grande sopro
  • Que circula…"
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  • Consuma-me, leve-me para
  • o último confim.
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  • "A vida fica ao meu redor como o vidro ao redor do junco aprisionado."

Meu Ser aspira por tocar o Nada, minha alma se retorce por sair do corpo; quer dançar ao som do meu próprio grito alucinado que ecoa e, como cigarra, rasgar minhas costas e arrastar-se para fora desse receptáculo de carne; só assim me faço ouvir. Mas como viver em harmonia corpo-alma — nada-tudo sem a histólise? Como tornar, ou mais difícil ainda, manter a alma imaculada sem a mácula do corpo? Devo, portanto, desfazer-me e desfigurar-me. Sofrer tão profunda e internamente que alcance a individualidade última; ao descer ao mais escuro abismo e alterar todos os sentidos, talvez consiga entender algo. Eu quero não temer o escuro.

Olho para o meu vestido de seda — seda como minhas asas rosadas de libélula — e o toco delicadamente; penso então nas pobres lagartas que morreram ardendo no líquido fervente para sua produção. Um pouco mais e sairiam de seus casulos, metamorfas que são, como pequenos seres etéreos e níveos, donos de olhos negro-abismo como os meus; existências sutis e puras como criança sem mácula. Minha vida não vale mais do que a delas. Ainda assim, cá estou eu com centenas de casulos que de nada me servem me envolvendo. Meu próprio casulo de sofrimento; mas este sofrimento não é meu. Para que me transmute em mim mesma devo envolver-me no isolamento do meu sofrer e vomitar-me para fora em desespero corrosivo, assim como quem expele muco verde viscoso da garganta. Corpo sem alma é doença.

Mas como? Como atar o nó que une o fio do eterno com o do finito? Me prosto frente ao Tudo-Nada e ofereço meu sangue. Sangue rubro que é pedaço do Tudo que escorre para fora de mim. Junto as ervas: sálvia, alfazema, manjericão, arruda. Que acenda o fogo! Danço com as salamandras em êxtase de transmutação. Meus pés antes de serem pés já sabiam dançar esta dança. Minha boca antes de ser boca já sabia entoar este feitiço. O belo e o grotesco se misturam no líquido amniótico da vida. É hora de alquimia. É hora de criar um casulo de sofrimento.

  • [...]

Observa atentamente e aprende. Aprende o parto que é viver. Não teme a tristeza, que ela é tão tua e tão fiel a ti quanto a felicidade. Elas sempre te cercam e enrolam-se em ti como fios de lã. Aprende que mulher-matéria desde que nasce tem corpo de curandeira, corpo que transmuta dor. O amor vem da dor pois dor traz compreensão. Dá-me sofrimento e eu, metamorfa que sou, te devolvo amor.

jul 27 2024 ∞
aug 2 2025 +