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Kaleo nasceu e foi criado no Havaí em uma família nipo americana, regado por diversidade cultural e mordomias que só pais donos de um resort poderiam conceber. Crescer naquele ambiente permitiu que conhecesse muito do mundo sem precisar sair de casa, uma vez que estava frequentemente perambulando pelo resort da família e encontrando novas pessoas. Aos 18 anos, começou a trabalhar na administração do local e inicialmente se deu bem no cargo, ganhando um dinheiro que era seu, e sentindo que fazia pelo menos um pouco a merecer. O problema foi que se envolver com os negócios da família passou uma ideia errada para os pais, que viam em Kaleo um futuro gestor do resort.
Dali em diante, Kaleo passou a se opor às regalias. Se tornou crítico e passava mais tempo longe do resort e da família, buscando trabalhos diferentes por conta, juntando dinheiro para viver uma vida simples e sozinho no limiar da ilha. Foi uma amiga quem o apresentou ao mundo da fotografia e despertou sua paixão. A vida, que antes parecia desprovida de sentidos numa máquina de repetições, passou a tomar novas cores pelas lentes da câmera. Kaleo se jogou de cabeça na experiência e construiu um portifólio modesto, que passou a expandir usando a grana em viagens e cursos.
Mas como nem tudo era perfeito… Batalhar pelo próprio dinheiro se mostrou uma luta árdua. Ainda estava caminhando nos passos independentes e o cu$to de vida era muito maior, somando sua educação e gostos pessoais. Derrotado, achou que a única saída seria firmar um acordo com os pais.
Topou se matricular em uma instituição de ensino superior e cursar algo visando o futuro na empresa familiar, e, em troca, teria apoio financeiro. Sua única condição era que pudesse escolher a instituição. Visando ficar o mais longe da família o possível, mirou em uma universidade japonesa, relembrando viagens passadas e boas referências. Foi assim que Kaleo deu início aos estudos em Economia na Universidade de Tóquio, se aproveitando das raízes da família. Lá passou os dois primeiros anos do curso a vivenciar uma liberdade muito maior e muito mais boêmica. Contudo, o gosto bom durou pouco, com a constante sensação de ser observado por demais familiares, pressionando-o dia após dia.
O plano diabólico surgiu numa noite depois de muito álcool nas ideias e sugestões excelentes dos amigos. Kaleo se matriculou num programa de intercâmbio para outra universidade e foi com digníssima surpresa que descobriu, semanas depois, que tinha conseguido a vaga. Assim, sem informar a família da mudança, e disposto a sustentar a mentira pelo bem de seu autogoverno, transferiu sua matrícula para Jiao Tong.
Atualmente, Kaleo vive em Xangai, onde continua fotografando de maneira independente, documentando a vida ao seu redor e explorando novas formas de expressão através de sua arte. Ainda recebe o apoio dos pais, mas busca qualquer tipo de bico numa ilusão de lavor “digno”, evitando gastar a outra grana ao máximo. Sustenta a todo custo a vida que criou ali, escondendo suas raízes nada humildes e, sobretudo, a trama de mentiras que o colocaram no caminho atual.
Mesmo sem formalidade profissional, sente que seu caminho verdadeiro está muito mais certo nessa estrada de incertezas do que no trilho do diploma almejado para ele.