• dizes que brevemente serás a metade de minha alma. a metade? brevemente? não: já agora és, não a metade, mas toda. dou-te a minha alma inteira, deixe-me apenas uma pequena parte para que eu possa existir por algum tempo e adorar-te — graciliano ramos, cartas de amor à heloisa
  • nossos olhos não foram feitos para serem arrancados e nossos corações para o mesmo propósito? ao mesmo tempo, não é tão ruim assim; isso é exagero e mentira, tudo é exagero, a única verdade é a saudade. mas mesmo a verdade do desejo não é tanto sua própria verdade; é realmente uma expressão para todo o resto, o que é mentira. isso soa louco e distorcido, mas é verdade. aliás, talvez não seja amor quando eu digo que você é o que eu mais amo - você é a faca que eu viro dentro de mim, isso é amor. isto, minha querida, é amor — franz kafka, cartas a milena
  • estou cansada de mim, estou cansada de mim sem você, eu sem você sou monótona, estou cansada. as tuas cartas não bastam pra minha Saudade, eu precisava ter você e eu tenho medo, e o que é que nós vamos fazer, não responda nada, o silêncio de antes da gente se encontrar era melhor, pelo menos era secreto e não secava almas e não almas, mas agora, esse silêncio e essa brancura de nós longe é insuportável, e eu começo a escrever, sem contar, dias passados dezembros janeiros fevereiros passados e antes e depois e agora é difícil, é difícil ser, é difícil te escrever, é difícil. eu devia estar menos contraída, afinal o nosso amor é muito mais óbvio que eles pensam, muito menos óbvio que nós pensamos, o nosso amor é, o nosso amor está. mas eu sou irracional obscura inóbvia burra faminta apaixonada. irracional mais que tudo. e não vou acabar essa carta não. — ana c. cesar, amor mais que maiúsculo
jun 18 2023 ∞
apr 4 2025 +