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i've always liked the time before dawn because there's no one around to remind me who i'm supposed to be, so it's easier to remember who i am. nothing ever ends poetically. it ends and we turn it into poetry. all that blood was never once beautiful. it was just red.

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Pela janela consigo observar o cenário lá fora. O negrume que há no céu me diz que já é noite.

O ônibus para e eu decido descer. Ainda havia muito caminho pela frente, mas eu quero percorrer o restante a pé.

Esse não é um lugar muito confiável e a escuridão logo me cerca, mas eu não sinto medo, pelo contrário, me sinto bem por poder estar respirando este gélido ar que a noite trouxe.

Caminho solitariamente pelas ruas da vizinhança. É bom não estar em casa, na escola ou em qualquer outro lugar por agora. É bom apenas passar pelas ruas a minha volta sem me preocupar com cobranças atrás de cobranças, é bom ter esse tempo para pensar um pouco.

Pessoas de todos os tipos passam por mim. Alguns acompanhados, outros a sós; alguns homens e outros, mulheres. Cada um deles está seguindo para algum lugar agora. E é ao observá-los enquanto passam por mim que percebo que eu os invejo. A vida parece mais fácil para eles, menos dolorosa.

Eu observo todos aqueles que estão acompanhados por outro alguém e eu os invejo pelo fato de eu ser a única a me sentir só. Eu observo os que estão desacompanhados e percebo que também os invejo por saber que o ar que há em seus lares é mais habitável do que o ar que há no meu. Neste momento, quando todos esses passos dessas outras pessoas vem e vão pelas ruas, eu me sinto a pessoa mais solitária do mundo.

Eu me pergunto se há mais alguém nesta rua, nesta mesma noite fria que também esteja sentindo esse mesmo vazio que eu sinto em meu peito. Me pergunto se sou a única se sentindo perdida e sem rumo, mesmo estando no trajeto para ir pra casa.

Será que eles também sentem que não pertencem a seu próprio lar? Será que eu sou a única que odeia o momento em que finalmente chega em casa?

Eu olho para cada rosto que passa por mim e percebo que provavelmente eu sou a única pessoa nesta rua que se sente assim. Eu sou a única pessoa tola que se sente cansada por carregar este coração tão pesado, a única pessoa fraca que não consegue suportar tamanha dor.

O peso que há em meu coração parece me puxar cada vez mais pra baixo. Eu sinto como se minhas pernas tivessem se tornado de chumbo e, de repente, continuar a caminhar se torna difícil. Eu estou fazendo um grande esforço para continuar. Isso dói. Respirar dói, continuar andando dói mas, ainda assim, eu não quero parar, não essa noite, não agora. Mesmo doendo, eu quero continuar. Eu sinto que em breve chegarei ao fim desta caminhada, então eu preciso continuar andando, eu não posso parar na metade do caminho.

Então eu continuo. Mesmo que esteja difícil caminhar, mesmo que doa respirar, mesmo que eu sinta que minha força lentamente se esgota, eu me agarro na esperança de que estou perto de chegar ao meu lar. Eu passo pelo parque que fica no caminho. Todas estas árvores e este silêncio tornam o clima daqui um pouco melancólico mas, ao mesmo tempo, é reconfortante.

Eu me pergunto o que aconteceria se eu parasse aqui por um tempo e observasse o céu que jaz acima de mim. Me pergunto o que aconteceria se eu parasse aqui e fixasse meu olhar nas estrelas que brilham nesse negrume do céu.

Iriam as estrelas me dizer o que devo fazer? Poderiam elas me dar força para continuar a andar e aliviar um pouco o peso que carrego dentro do meu coração? Poderiam elas desobstruir minhas vias aéreas e me permitir respirar novamente?

Não, as estrelas não se importam com isso. Para as estrelas lá de cima, eu sou tão pequena quanto um grão de areia. Elas jamais conseguiriam me enxergar, elas jamais conseguiriam ouvir o meu lamento. Então eu decido apenas parar de acreditar nelas. Eu viro as costas para elas e continuo a caminhar.

Eu estou perto de casa agora, já posso ver o meu portão. Eu quero prolongar este momento. Quero prolongar esta noite fria em que caminho solitariamente por entre as ruas da vizinhança enquanto observo todos aqueles que passam por mim. Quero adiar o momento em que chegarei abrirei o portão e estarei em casa novamente.

Mas eu sei que tenho que entrar, eu preciso voltar ao meu lar. Mesmo que o ar deste ambiente me mate aos poucos, eu preciso voltar. Então eu abro o portão. Eu estou em casa novamente mas, de certa forma, sinto que não deveria chamar este lugar de lar.

~ Giullia Gabriella

jan 29 2019 ∞
jun 12 2019 +