|
bookmarks:
|
main | ongoing | archive | private |
Eu estou olhando a rua pela janela do meu quarto enquanto os pingos da chuva escorrem pelo seus vidros. Há uma intensa neblina lá fora. É triste como o clima lá fora é tão parecido com meu estado atual.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto. Há uma pressão esmagadora em minha garganta e o peso das palavras não ditas me fere. Todas essas palavras... Eu deveria tê-las dito enquanto havia tempo. Mas o que exatamente eu deveria ter dito? Um simples "me desculpe" não parece o suficiente para apagar tudo o que fiz. Nada é capaz de apagar isso.
Eu queria ser capaz de voltar no tempo e apagar meus erros mas, assim como a chuva que cai do céu não pode retornar ao seu lugar de origem, eu percebo que não há como voltar ao passado. Agora eu tenho que conviver com meus erros, com a culpa e o arrependimento.
O que mais dói é saber que apesar de tudo você se dispôs a perdoar. Mas como eu seria capaz de aceitar seu perdão se nem mesmo eu consigo me perdoar? Você diz que apesar de tudo não me odeia. Por que não me odeia? Eu mesmo me odeio, então por que você não deveria odiar?
Meu coração tristemente tenta alcançar a parte do passado que era feliz, bem antes de tudo desmoronar. Mas eu sou como um experimento falho de um cientista. Por mais que tente não sou capaz de obter sucesso.
Os meus erros embaçam a visão desse passado que era feliz e, quanto mais eu me esforço para enxerga-lo, mais densa se torna a neblina que o cobre. Eu tenho medo de tentar atravessá-la. Tenho medo do que possa encontrar do outro lado quando ela se dissipar. Então eu decido permanecer aqui. Envolto pela neblina. Estagnado.
Eu olho para a chuva torrencial que cai lá fora e começo a pensar em minha vida. Eu jamais imaginei que, ao escolher esse tipo de vida, haveria tantos "e se...". As lágrimas caem impiedosamente e a pressão em minha garganta se torna insuportável.
Eu abro a porta e saio para a rua. A chuva disfarça minhas lágrimas. Eu estou estupidamente esperando que a chuva seja capaz de lavar meus pecados e minha alma. Lave-me. Tire esse vermelho sangue que cobre minhas vestes e as torne brancas novamente.
Me permita voltar ao passado. Eu não aguento ser o que me tornei. Por favor, leve-me de volta ao começo.
~ Giullia Gabriella
Inspiração: The scientist - Coldplay