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"- Tikkun olam - repito.
- Exato. Basicamente, diz que o mundo foi desfeito em pedaços. Todo esse caos, toda essa discórdia. E o nosso trabalho... o trabalho de todos... é tentar reunir os pedaços de novo. Fazer as coisas um todo novamente.
- E você acredita nisso? - eu pergunto. Mas não como um desafio. Como uma pergunta genuína.
Ela dá de ombros, depois nega o dar de ombros com o pensamento nos olhos.
- Acho que sim. Quer dizer, não sei como o mundo se rompeu. E não se se existe um Deus que pode nos ajudar a consertar. Mas o fato de que o mundo está despedaçado... Eu acredito realmente nisso. Olhe em volta. A cada minuto... a cada segundo... há milhões de coisas que você podia estar pensando. Um milhão de coisas que podiam estar preocupando você. Nosso mundo... Não sente que está se tornando cada vez mais fragmentado? Antigamente eu pensava que o mundo faria muito mais sentido quando eu ficasse mais velha. Mas sabe de uma coisa? Quanto mais velha eu fico, mas confuso ele é para mim. O mais complicado é isso. É o mais difícil. Era de se pensar que ficaríamos melhor nele. Mas o caos é cada vez maior. Os pedaços... Eles estão em toda parte. E ninguém sabe o que fazer a esse respeito. Eu me vejo agarrando, Nick. Conhece essa sensação? Essa sensação de quando você quer que a coisa certa caia no lugar certo, não só poque é o certo, mas porque vai significar que uma coisa dessas ainda é possível? Quero acreditar nisso.
- Você acha que está mesmo ficando pior? - pergunto. - Quer dizer, a gente não está melhor do que estava há vinte anos? Ou há cem?
- Estamos. Mas não sei se o mundo está melhor. Não sei se as duas coisas são a mesma.
- Tem razão. - eu digo.
- Como?
- Eu disse que você tem razão.
- Mas ninguém jamais diz "tem razão". É simples.
- É mesmo?
- É.
Ela se inclina um pouco para mim. Não é acidental. Mas ainda de certo modo parece um acidente - nós aqui, esta noite. Como se estivesse lendo meu pensamento, ela diz:
- Eu gosto disso. - Depois sua cabeça cai no meu ombro e eu sinto que ela está adaptada ali. Olho para cima, tentando encontrar o céu por trás do prédio, tentando encontrar pelo menos um vestígio das estrelas. Quando não consigo, fecho os olhos e tento conjurar as minhas, feliz que Norah não esteja lendo a minha mente agora, porque não sei como eu reajo se alguém me conhece desse jeito. Enquanto nós ficamos sentados no silêncio desta cidade, o que não é bem um silêncio, mas um barulho leve, minha mente volta para alguns minutos atrás, pensando no que ela disse.
Depois me ocorre.
- Talvez nós sejamos os pedaços.
A cabeça de Norah não se mexe do meu braço.
- O quê? - pergunta ela. Sei, por sua voz, que seus olhos ainda estão fechados.
- Talvez seja isso - eu disse delicadamente. - Do que você estava falando antes. O mundo sendo despedaçado. Talvez não seja verdade que a gente deva encontrar os pedaços e juntá-los de novo. Talvez nós sejamos os pedaços.
Ela não responde, mas sei que está ouvindo com atenção. Sinto que estou entendendo alguma coisa pela primeira vez, mesmo que ainda não tenha certeza do que é.
- Talvez - eu digo - o que a gente deva fazer é se unir. E assim vamos parar a ruptura.
Tikkun olam ."