Quase, eu disse QUASE, QUASE TRÊS ANOS DEPOIS (pô cara, isso é um tempo razoavel), a banda de post-electro-sons de nintendo e muitos sintetizadores-rock-alt-experimentalhardcore ENTER SHIKARI retorna com THE MINDSWEEP. Para os que não conhecem a banda, vale a pena conferir o disco anterior dos caras "A FLASH FLOOD OF COLOUR", um dos meus discos favoritos de 2012 e que até hoje não me canso de ouvir.
Um dos traços mais evidentes no som do Enter Shikari é que ele está em CONSTANTE evolução. Temos que imaginar o som da banda como um pokémon (ou digimon, se você é um desses também) que tem um número aparentemente infinito de evoluções (ou digievoluções, se você é um desses). Mas, apesar da evolução constante, a banda utiliza de fórmulas clássicas como uma forma de dizer "ei, ainda somos nós ok?". E é exatamente isso que define the Mindsweep: um disco completamente experimental e uma evolução no som da banda, mas com traços que retomam toda a discografia dos caras. Isso se torna óbvio desde a primeira música do disco "The Appeal & The Mindsweep I". Enter Shikari tem uma MANIA de começar os discos com uma música poderosa. Sabe aquelas músicas que começam lentas e terminam como se alguém tivesse lhe nocauteado com um SACO DE CIMENTO? Então, é por aí. O disco é repleto desses momentos de calmaria interrompidos por uma tempestade. Isso é uma fórmula que vai se repetindo com certa frequência pelo disco mas, para a alegria de nós meros ouvintes, não é algo enjoativo. A banda consegue com certa facilidade manipular esses momentos de uma forma que a experiência não se torna cansativa.
As letras do disco retratam as visões políticas do grupo, e é interessantíssimo como Rou Reynolds utiliza de metafóras e histórias em vez de ser sempre direto e gritar "ODEIO O GOVERNO, TÁ TUDO ERRADO, CORRUPÇÃO AHHHH". Talvez o melhor exemplo disso seria a ÓTIMA "Myopia", que retrata, através de uma "história", a ignorancia daqueles que insistem em dizer que o aquecimento global nada mais é que um mito/processo natural. Mas como a banda tem como missão espalhar seus pensamentos para nós ouvintes, e como existem pessoas ignorantes, existem momentos em que eles são extremamente diretos no que querem transmitir. Tomemos "Anaesthetist", onde eles declaram de uma maneira bem amigável (YOU SOLD US SHORT, YOU WILL NOT PROFIT OFF OUR HEALTH, STEP THE FUCK BACK) que os partidos conservadores do Reino Unido não tem direito de privatizarem o sistema de saúde gratuito oferecido pela NHS. Apesar de ser um disco com letras essencialmente "socialmente conscientes", isso não significa que não há espaço pra momentos mais introspectivos e que refletem sobre a nossa própria existência, como é o caso da majesosta e belíssima "Dear Future Historians..." (o final dessa música tem ENTER SHIKARI escrito por todas as partes) ou então da explosão AGRESSIVAMENTE colorida de "The Last Garisson". E, ainda mais além das letras politizadas e reflexivas presentes no disco, a banda fez questão de agradar aos fãs do primeiro disco colocando um trecho do refrão de "Sorry You're Not a Winner" na última música do disco "The Appeal & The Mindsweep II" (uma SENHORA MÚSICA pra concluir um disco, agressiva, cheia de riffs e metais misturados com um vocal abafado).
É admirável o quanto a banda vem evoluindo o seu som e experimentando com ritmos diferentes, mas talvez para uma pessoa que esteja ouvindo os caras pela primeira vez, pode não ser uma experiência TÃO agradável. Existem duas músicas em particular nesse disco que não fluem tão bem quanto as outras. São elas "Never Let Go of the Microscope" e "There Is a Price On Your Head", sendo a última com certeza a música mais brutal do disco e talvez por isso ela seja a mais estranha. Já em "Never Let Go of the Microscope", a música tem versos agradáveis mas se perde completamente num refrão totalmente desconexo, talvez por conta da natureza mais experimental do disco, mas é totalmente perdoável porque felizmente a banda utiliza a mágica de finais grandiosos nos últimos momentos.
The Mindsweep é um disco com um "replay value" ALTO. Aos que estão tentando dar uma chance a banda, aconselho ouvir todas as músicas em ordem, ininterruptamente, assim a experiência se torna BEM MAIS agradável do que escolher apenas algumas músicas aleatoriamente e acabar estranhando o som dos caras. The Mindsweep é uma overdose de ritmos, harmonias, brutalidade e suavidade com um toque de grandiosidade. Talvez a melhor analogia seria comparar esse disco com um sorvete de chocolate CHEIO de granulado colorido, MUITA calda e um toquezinho de Alcool pra encher o peito e deixar qualquer um corajoso enquanto toma essa deliciosa sobremesa. The Mindsweep é, com certeza, o vencedor do prêmio 2015 na categoria "Disco que consegue ser explosivo e brutal com a presença de sintetizadores coloridos" e olhe que estamos em janeiro ainda.
Nota: 8.8/10
Minhas músicas favoritas: Myopia, The Last Garrison, The Appeal & The Mindsweep I, Anaesthesist