Nós nunca estamos prontos para perder quem amamos, por mais que a pessoa esteja doente com os dias contados. Nunca estamos prontos para o último adeus; último abraço (mesmo não sabendo que aquele será o último); últimas palavras. Estamos prontos para nascimentos, mas nunca para morte.
Eu não tenho medo da morte, porém um de meus maiores medos era de perder meu avô. Mesmo vendo ele envelhecendo e tendo conhecimento sobre nosso papel na terra, eu ainda tinha medo. Me pegava pensando sobre a sua ida e chorava pedindo para Deus para que adiasse por mais uns anos (quem sabe até o meu último dia viva?). Foi muito rápido. Em um dia eu estava o abraçando e no outro sentia a sua mão gélida.
Vovô, o senhor foi a pessoa mais incrível que eu conheci. Independente dos seus erros e arrependimentos. Me lembro de escutar suas milhares de histórias com uma dedicação sem tamanho, porque não existiu melhor contador de histórias que o senhor. Sua infância sofrida. Seus dias de militar. Histórias de historias que conhecidos te contaram. Queria que todos que tiveram o prazer de te conhecer, soubessem que o senhor os imortalizou. Queria poder ter mais um dia te escutando, passando a mão nos seus fios finos e branquinhos, te vendo dar gargalhadas e rir também (mesmo que a piada não tivesse graça).
Eu prometo continuar minha vida e aceitar que não posso mais te chamar de vovô pessoalmente. Por mais que seja dolorido. Como meu pai disse: "Um pedaço do vô está em mim, nos seus tios e em você".
No dia do seu funeral, vi uma borboleta de tons laranja e preto na acapela, não sei dizer se era, de fato, uma Monarca ou apenas mimetismo. Pode ser apenas uma borboleta qualquer - nem eu sei se acredito. No entanto, ela apareceu de novo quando eu estava chorando após o seu enterro, sozinha, sentindo uma enorme dor de saudade. Quero acreditar que como aquela borboleta, o senhor está voando por ai olhando por mim.
Um dia, eu ainda vou te encontrar e te contar histórias sobre a mulher que me tornei. Sobre minha formatura. Minha vida pessoal. Quem sabe filhos? Só o tempo vai dizer. E só o tempo vai curar.
De sua eterna "grandona", Marta. Eu te amo para sempre.