Eu sinceramente pensei em parar de escrever para você depois que seu aniversário de um ano de morte chegou. Mas pensando bem, sinto que deveria fazer isso, depois de um ano eu percebi que não escrevo para você e sim para mim.
Faz duas semanas (acho) que eu estou morando na sua casa, os problemas financeiros dos meus pais se agravaram tanto que chegamos ao extremo de ter que morar aqui. Eu não queria, morar de favor para mim é humilhante, por mais que todos aqui tenham nos recebido de braços abertos. Pensei que eu fosse surtar, na realidade eu quase surtei com o meu cachorro, chorei algumas vezes nos primeiros dias, porém agora tudo parece estar bem. Não sei até quando esse sentimento vai ficar, sou uma pessoa naturalmente pessimista e sempre espero o pior das coisas. Só espero que dure até eu ter que ir embora, também espero ir embora logo.
Depois que cheguei aqui, algumas coisas que eu pensava só foram confirmadas. Aqui ninguém pode sofrer pela sua ida, se for chorar que seja em silêncio e em lugares onde ninguém possa ver. Na realidade, onde a minha avó não consiga ver. Isso ainda me dói, porque penso que talvez ela também não esteja bem e precisando conversar. Penso até onde isso se estenderá, o casamento da minha prima está logo ali e ela também não sabe lidar com a sua morte.
Enfim, só mais um texto onde eu finjo que converso com você quando na verdade desabafo o que não consigo dizer em voz alta.
Eu te amo, vovô.