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por mario quintana
porque só termina para todo o sempre o que foi [artificialmente construído...]
Enquanto dormes, teu Cuidado espera-te. Despertas... e ei-lo sentado, ali, aos pés do leito. Mas um dia darás um jeito nisso tudo... Um dia, não despertas... Nunca mais! Que fará ele, então, o teu Cuidado, Da sua odienta fidelidade canina? Do seu feroz silêncio? Do seu rosto sem cara?
É preciso construir uma torre... É preciso construir um túnel... É preciso morrer de puro, puro amor!
Tenta esquecer-me... Ser lembrado é como evocar-se um fantasma... Deixa-me ser o que sou, o que sempre fui, um rio que vai fluindo... Em vão, em minhas margens cantarão as horas, me recamarei de estrelas como um manto real, me bordarei de nuvens e de asas, às vezes virão em mim as crianças banhar-se... Um espelho não guarda as coisas refletidas! E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar, as imagens perdendo no caminho... Deixa-me fluir, passar, cantar... toda a tristeza dos rios é não poderem parar!
Neste mundo de tantos espantos, cheio das mágicas de Deus, O que existe de mais sobrenatural São os ateus...
Eu tenho mania de deixar tudo para depois... Depois a contagem das cartas a responder... Depois a arrumação das coisas... Depois, Adalgisa... Ah, Me lembrar mais uma vez de romper definitivamente [com Adalgisa! Depois, tanta, tanta coisa... Depois o testamento as últimas vontades a morte. Só porque vai sempre deixando tudo para depois É que Deus é eterno E o mundo incompleto Inquieto... Só é verdadeiramente vida a que tem um inquieto [depois!
Se cada um de vós, ó vós outros da televisão - vós que viajais inertes como defuntos num caixão - Se cada um de vós abrisse um livro de poemas... Faria uma verdadeira viagem... Num livro de poemas se descobre de tudo, de tudo [mesmo! - inclusive o amor e outras novidades.
Não adianta chamar escafandros, nem homens-rãs, nem a sereia mais querida, nem os atenciosos hipocampos, - de que adianta?! Não existem vestígios de mim...
Porque a matemática é o único pensamento sem dor... Prometo, prometo, sim... Estou mentindo? Estou! Tão bom morrer de amor! e continuar vivendo...
Não desças os degraus do sonho Para não despertar os monstros. Não subas aos sótãos - onde Os deuses, por trás das suas máscaras, Ocultam o próprio enigma. Não desças. não subas, fica. O mistério está é na tua vida! E é um sonho louco este nosso mundo...
Quem nunca quis morrer Não sabe o que é viver Não sabe que viver é abrir uma janela E pássaros, pássaros sairão por ela E hipocampos fosforescentes Medusas translúcidas Radiadas Estrelas-do-mar... Ah, Viver é sair de repente Do fundo do mar E voar... e voar, cada vez para mais alto Como depois de se morrer!
Teus poemas, não os dates nunca... Um poema Não pertence ao Tempo... Em seu país estranho, Se existe hora, é sempre a hora extrema Quando o Anjo Azrael nos estende ao sedento Lábio o cálice inextinguível... Um poema é de sempre, Poeta: O que tu fazes hoje é o mesmo poema Que fizeste em menino, É o mesmo que, Depois que tu te fores, Alguém lerá baixinho e comovidamente, A vivê-lo de novo... A esse alguém, Que talvez nem tenha ainda nascido, Dedica, pois, teus poemas. Não os dates, porém: As almas não entendem disso...
A bolinha que saiu na loteria não saiu porque deveria sair precisamente ela mas sim porque uma delas teria de sair não podia deixar de sair! Moral da História: uma coisa - só por ter acontecido - não quer dizer que seja lá essas coisas...
Basta de poemas para depois... Ô Vida, e se nós dois Vivêssemos juntos?
As coisas que não conseguem ser olvidadas continuam acontecendo. Sentimo-las como da primeira vez, sentimo-las fora do tempo, nesse mundo do sempre onde as datas não datam. Só no mundo do nunca existem lápides... Que importa se - depois de tudo - tenha ela partido, casado, mudado, sumido, esquecido, enganado, ou que quer que te haja feito, em suma? Tiveste uma parte da sua vida que foi só tua e, esta, ela jamais a poderá passar de ti para ninguém. Há bens inalienáveis, há certos momentos que, ao contrário do que pensas, fazem parte da tua vida presente e não do teu passado. E abrem-se no teu sorriso mesmo quando, deslembrado deles, estiveres sorrindo a outras coisas. Ah, nem queiras saber o quanto deves à ingrata criatura... A thing of beauty is a joy for ever - disse, há cento e muitos anos, um poeta inglês que não conseguiu morrer.
- Boa tarde... - Boa tarde! - E a doce amiga E eu, de novo, lado a lado vamos! Mas há um não sei quê, que nos intriga: Parece que um ao outro procuramos... E, por piedade ou gratidão, tentamos Representar de novo a história antiga. Mas vem-me a idéia... nem sei como a diga... Que fomos outros que nos encontramos! Não há remédio: é separar-nos, pois. E as nossas mãos amigas se estenderam: - Até breve! - Até breve! - E, com espanto Ficamos a pensar nos outros dois. Aqueles dois que há tanto já morreram... E que, um dia, se quiseram tanto!
Mas onde já se ouviu falar Num amor a distância, Num (tele-amor)?! Num amor de longe... Eu sonho é um amor pertinho Um amor juntinho... E, depois, Esse calor humano é uma coisa Que todos - até os executivos - têm. É algo que acaba se perdendo no ar, No vento No frio que agora faz... Escuta! O que eu quero, O que eu amo, O que desejo em ti É o teu calor animal!...