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by haruki murakami
- Ele não sentia nenhum comichão por cavar glórias / Fundo na poeira que o tempo assentava
- Mas se perco a mim mesma, aonde poderei ir?
- (...) Mas tudo o que eu sentia era uma solidão sem par. Antes que eu percebesse, o mundo em volta foi privado de cor. Do cimo maltratado da montanha, as ruínas desses sentimentos vazios, vi a minha própria vida estendendo-se no futuro. Parecia uma ilustração de um romance de ficção científica que li em criança, sobre a superfície desolada de um planeta deserto. Nenhum sinal de vida. Cada dia parecia durar para sempre, o ar ou estava fervendo ou gelando. A nave espacial que me levara para lá tinha desaparecido, e eu estava preso. Tinha de sobreviver sozinho
- O entendimento não passa da soma de nossos mal-entendidos.
- Já viu alguém levar um tiro e não sangrar?
- (...) Mas amanhã serei uma pessoa diferente, nunca mais serei quem eu fui. Não que alguém vá notar quando eu chegar ao Japão. No exterior nada estará diferente. Mas alguma coisa no interior se extinguiu, desapareceu. Sangue foi derramado, e algo dentro de mim se foi. De cabeça baixa, sem uma palavra, esse algo saiu de cena. A porta abre; a porta fecha. As luzes se apagam. Este é o último dia da pessoa que sou agora. O último crepúsculo. Quando amanhecer, a pessoa que sou não estará mais aqui. Outro ocupará este corpo.
- Por que as pessoas têm de ser tão sós? Qual o sentido disso tudo? Milhões de pessoas neste mundo, todas ansiando, esperando que outros as satisfaçam, e contudo se isolando. Por quê? A terra foi posta aqui só para alimentar a solidão humana?
- Os seres humanos, no fim das contas, têm de sobreviver por si próprios
- (...) De modo que é assim que vivemos as nossas vidas. Não importa quão profunda e fatal seja a perda, o quão importante fosse o que nos roubaram — que foi arrebatado de nossas mãos —, mesmo que mudemos completamente, com somente a camada externa da pele igual à de antes, continuamos a representar as nossas vidas dessa maneira, em silêncio. Aproximamo-nos cada vez mais do fim da dimensão do tempo que nos foi estipulado, dando-lhe adeus enquanto vai minguando. Repetindo, quase sempre habilmente, as proezas sem fim do dia-a-dia. Deixando para trás uma sensação de vazio imensurável
- Meu telefone parece que vai tocar a qualquer minuto. Mas não toca.