by paulo leminski

a um amigo que perdeu a memória

Memória é coisa recente. Até ontem, quem lembrava? A coisa veio antes, ou antes, foi a palavra? Ao perder a lembrança. grande coisa não se perde. Nuvens, são sempre brancas. O mar?Continua verde.

por um lindésimo de segundo tudo em mim anda a mil tudo assim tudo por um fio tudo feito tudo estivesse no cio tudo pisando macio tudo psiu tudo em minha volta anda às tontas como se as coisas fossem todas afinal de contas Transar bem todas as ondas, a papai do céu pertence, faer as luas redondas ou me nascer paranaense A nós, a gente, só foi dada essa maldita capacidade, transformar amor em nada

objeto sujeito

você nunca vai saber quanto custa uma saudade o peso agudo no peito de carregar uma cidade pelo lado de dentro como fazer um verso um objeto sujeito como passar do presente para o pretérito perfeito nunca saber direito

você nunca vai saber o que vem depois do sábado quem sabe um século muito mais lindo e mais sábio quem sabe apenas mais um domingo

você nunca vai saber e isso é sabedoria nada que valha a pena a passagem pra passárgada xanadu ou shangrilá quem sabe a chave de um poema e olha lá

rumo ao sumo

Disfarça, tem gente olhando. uns olham pro alto, cometas, luas, galáxias. Outros olham de banda, lunetas, luares, sintaxes. De frente ou de lado, sempre tem gente olhando olhando ou sendo olhado

Outros olham pra baixo, procurando algum vestígio do tempo que a gente acha, em busca do espaço perdido. Raros olham para dentro, já que não tem nada. Apenas um peso imenso, a alma, esse conto de fada.

transpenumbra

tempestade que passasse deixando intactas as pétalas você passou por mim as tuas asas abertas passou mas sinto ainda uma dor no ponto exato do corpo onde tua sombra tocou que raio de dor é essa que quanto mais dói mais sai sol?

textos textos textos

as coisas não começam com um conto nem acabam com um (ponto)

donna mi priega 88

se amor é troca ou entrega louca discutem os sábios entre os pequenos e os grandes lábios

no primeiro caso onde começa o acaso e onde acaba o propósito se tudo o que fazemos é menos que amor mas ainda não é ódio?

a tese segunda evapora em pergunta que entrega é tão louca que toda espera é pouca? qual dos cinco mil sentidos está livre de mal-entendidos?

sep 9 2013 ∞
nov 2 2013 +