• "A natureza dos gatos é parecida com a das meninas: também eles possuem aquela ferocidade mansa, toda contida e dissimulada a maneira-adulta-de-comunicar-se trata-se de um constante dizer o que não se quer, pedir o que se tem e dar o que não se possui."
  • "Achei um pouquinho mágico, mágico suave, você sabe - nós ali, lado a lado, falando praticamente das mesmas coisas."
  • "Aos poucos a gente vai mudando o foco. E o lugar nem te acrescenta mais, você começa a precisar de outros lugares. E de outras pessoas. E de bebidas mais fortes. Nem pensa. Vai indo junto com as coisas."
  • "Aquilo que nos fere é aquilo que nos cura."
  • "Aumente o volume. Ou desligue para sempre, você me entende?"
  • "Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso. A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão."
  • "Doeria mais tarde, quem sabe, de maneira insensata e ilusória como doem as perdas para sempre perdidas, e portanto irremediáveis."
  • "E que eu me recriminava por estar sempre esperando que nada fosse como eu esperava, ainda que soubesse."
  • "Então, admitiu o medo. E admitindo o medo permitia-se uma grande liberdade: sim, podia fazer qualquer coisa."
  • "Era um homem muito simples, todos dizem. Sabia que suas histórias não tinham muitas pretensões mais do que resgatar do pó do esquecimento figuras que, se ele não as tivesse lembrado, permaneceriam para sempre anônimas. Sabia também que quando tudo parece meio idiota quando se pensa na morte. E que as pessoas, de muitas maneiras estranhas, tortuosas, piradas, no final das contas só querem amar e ser felizes."
  • "Esta coisa terrível de não ter ninguém para ouvir o meu grito. Esta coisa terrível de estar nesta ilha desde não sei quando. No começo eu esperava, que viesse alguém, um dia. Um avião, um navio, uma nave espacial. Não veio nada, não veio ninguém."
  • "Imagine. Invente. Sonhe. Voe. Se a realidade te alimenta com merda, meu irmão, a mente pode te alimentar com flores."
  • "Loucura, eu penso, é sempre um extremo de lucidez. Um limite insuportável."
  • "Mas há uma diferença entre você saber intelectualmente da inutilidade das procuras, da insaciabilidade — vixe, que palavra! — do corpo e conseguir passar isso para o seu comportamento — tomar ato o que é pensamento abstrato. Os caminhos são individuais/intransferíveis."
  • "Mas o que ia dizendo — não se enlouquece quando se tem um tanque cheio de roupa suja pra dar conta."
  • "Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier."
  • "Não pelas palavras, não pelo encontro, não pela noite. Talvez apenas para certificar-se de que em algum ponto da cidade existia um espaço onde não seria forçado a movimentar-se, onde não houvesse nenhuma conversa, nenhuma solicitação de fora, nenhuma possibilidade de prazer ou dor, nenhuma expectativa."
  • "Não sei, deixo rolar, vou olhar os caminhos, o que tiver mais coração eu sigo."
  • "Não tem coisa melhor (nem pior) do que gente."
  • "Os dragões não permanecem. Os dragões são apenas a anunciação de si próprios. Eles se ensaiam eternamente, jamais estréiam. As cortinas não chegam a se abrir para que entrem em cena. Eles se esboçam e se esfumam no ar, não se definem. O aplauso seria insuportável para eles: a confirmação de que sua inadequação é compreendida e aceita e admirada, e portanto - pelo avesso igual ao direito - incompreendida, rejeitada, desprezada. Os dragões não querem ser aceitos. Eles fogem do paraíso, esse paraíso que nós, as pessoas banais, inventamos - como eu inventava uma beleza de artifícios para esperá-lo e prendê-lo para sempre junto a mim. Os dragões não conhecem o paraíso, onde tudo acontece perfeito e nada dói nem cintila ou ofega, numa eterna monotonia de pacífica falsidade. Seu paraíso é o conflito, nunca a harmonia."
  • "Os dragões não permanecem. Os dragões são apenas a anunciação de si próprios. Eles se ensaiam eternamente, jamais estréiam. As cortinas que não chegam a se abrir para que entrem em cena. Eles se esboçam e se esfumam no ar, não se definem. O aplauso seria insuportável para eles: a confirmação de que sua inadequação é compreendida e aceita e admirada, e portanto - pelo avesso igual ao direito - incompreendida, rejeitada, desprezada. Os dragões não querem ser aceitos. Eles fogem do paraíso, esse paraíso que nós, as pessoas banais, inventamos - como eu inventava uma beleza de artifícios para esperá-lo e prendê-lo para sempre junto a mim. Os dragões não conhecem o paraíso, onde tudo acontece perfeito e nada dói nem cintila ou ofega, numa eterna monotonia de pacífica falsidade. Seu paraíso é o conflito, nunca a harmonia."
  • "Outro sintoma é uma coisa que chamo de pálpebras ardentes: fecho os olhos e é como se houvesse duas brasas no lugar das pálpebras."
  • "Perdoem o silêncio, o sono, a rispidez, a solidão.Está ficando tarde, e eu tenho medo de ter desaprendido o jeito."
  • "Pudesse ver seu próprio rosto: nesses momentos você ganhava luz e sorria sem sorrir, olhos fechados, toda plena. Isso não valeu?"
  • "Quando a gente ‘enlouquece’ o problema é a leitura simbólica que se passa a fazer de absolutamente tudo."
  • "Quando se deseja realmente dizer alguma coisa, as palavras são inúteis."
  • "Queria tanto que alguém me amasse por alguma coisa que eu escrevi."
  • "Quero qualquer coisa que não tenho agora, um país, uma língua, um amor."
  • "Se tiver aprendido lições (amor é pedagógico?), até aproveito e não faço tanta besteira."
  • "Sei que me arrisco a te chocar, te ferir, te agredir. Mas eu nunca quis ser gostado por aquilo que não sou ou aparento ser."
  • "Sem sentir, você calcula mal alguma coisa no passo e, em vez do voo, vem a queda."
  • "Só agora eu sinto que a minhas asas eram maiores que as dele."
  • "Você pode estar detestando tudo isso e achando longo e choroso e confuso. Mas eu não quero ter vergonha de nada que eu seja capaz de sentir."
  • "Às vezes dá uma distância. Eu penso coisas banais, eu sinto coisas banais. Mas tão nítidas. Quando estou dando aula, quando digo a eles para copiarem ou fazerem qualquer coisa em silêncio, fico olhando aquela porção de cabeças baixas e pensando que tem um abismo entre a gente. Um abismo de tempo, de história. Que as coisas andaram muito rápidas. Que eles não têm tempo. Que tudo acabou. E eu sinto pena, então. Como os velhos, os bem velhos, devem ter pena dos moços. Que a gente tem a cabeça cheia de versos e filmes e livros e histórias e memórias que para eles já não tem nada a ver. Peças de museu, nossas emoções. Todas as emoções."
  • "— Dane-se. Comigo sempre foi tudo ao contrário."
  • "…e toda essa merda educada que as pessoas costumam dizer para colorir a indiferença quando o coração ficou inteiramente gelado."
dec 28 2011 ∞
dec 29 2011 +