eu sempre torno a situação em algo maior. me atrasei 20 minutos do horário marcado para ir pro enade, e meu pai falou algo do tipo "qual sua dificuldade em cumprir horário?" e pra ele era só isso, ele tava questionando o porquê de "eu não ter mais compromisso", que eu deveria ter acordado mais cedo, e ido no horário certo. mas eu transformei isso em várias outras coisas.

eu não queria ter que pensar isso agora, mas notei que o que eu faço é não dar atenção ao pensamento, mas que ele tá aqui e me impede de fazer qualquer outra coisa, então não é uma escolha -

o problema é que pra mim, é sempre outra coisa. o enade foi a ansiedade chegando desde que fui convocada, quando tive que tirar a foto, em todo pensamento que foi deixado de lado de não saber fazer a prova, foi pensar em me formar, foi perder a identidade, foi ter que ir até a delegacia, foi precisar ter mentido, foi não ter dormido cedo por nervosismo, foi querer ter não ido, mas mesmo assim ter acordado as 8h e indo mesmo assim. 20 minutos atrasada.

então eu tornei em algo maior do que estar atrasada 20 minutos, porque pra mim, eu já tinha considerado como uma coisa boa. eu estava indo. eu ia fazer a prova. mas pra ele, era só o atraso. pra mim parecia tão óbvio, que eu nem pensei em "ele está reclamando porque eu tô atrasada" eu pensei "ele não achou bom o suficiente meu esforço" mas ele nem sabe de nenhum esforço. e ai, começo a me perguntar até que ponto estão certos de eu me fazer de vítima. tudo bem que eu tenho um motivo, mas só está para mim. eles não sabem. e eu não posso esperar que me isentem de qualquer coisa porque eu tô lidando com outras coisas, porque eles também estão. mas pra mim, o que importa são todas as outras coisas. e eu acabo negligenciando o que tá na superfície. o que eles estão vendo, o que eu estou fazendo. e eu só notei isso agora.

não sei, me incomoda que eu quero tentar melhorar, eu quero lidar melhor com tudo, eu quero sair desse ciclo, mas são tantos conflitos. eu paro demais. foi difícil digerir tudo que aconteceu ontem, e para passar por ontem, todas as outras coisas que eu também deveria estar fazendo foram paradas. é como se eu só conseguisse fazer uma tarefa por vez, e bem mal. e mesmo eu não prestando atenção, isso foi tudo que consumiu minha cabeça, mesmo que seja uma coisa tão besta, no final das contas. uma prova. e ainda tenho que lidar com o porquê de uma prova ter causado isso.

mas ao mesmo tempo, não posso só esperar que todo mundo entenda o que tá acontecendo comigo, pra tudo melhorar eu também tenho que prestar atenção em como o que eu to fazendo tá afetando o outro. o que eu to comunicando para o outro. e agora que eu pensei, parece óbvio que eu deveria fazer isso, mas quanto mais eu olho pra mim, percebo que eu nunca fiz isso antes

é estranho entender um defeito, porque acho que de uns tempos pra cá tô entendendo melhor o que estão falando pra mim, mas eu fico com tanto medo de não entender

se eu não me conhecer mesmo, se eu não entender nunca o que está sendo falado pra mim, e eu sempre me colocar num lugar de que só eu estou certa, ou que só eu tenho motivos, que todos deveriam entender, se eu sempre ficar tão presa dentro de mim, que eu não consiga nunca lidar com o lado de fora?

e até agora eu nem pensei ainda sobre o que realmente eu falei na hora. que é meio que outro ponto da situação. na hora questionei sobre a importância dos 20 minutos de atraso, que não era nada demais. meu pai falou como ele teve que sair muito mais cedo, ir resolver algo que tinha que resolver, voltar correndo pra vir me buscar, e eu não estar lá na hora. ele falou como já tinha o resto do dia planejado e eu contestando que 20 minutos não faria diferença.

eu sei que a agenda de meu pai é caótica, que ele se atrasa pra todos os lugares, mas também sei que as vezes ele acorda muito cedo, e faz as coisas corridas, e tem muitos problemas.

mas mesmo assim, nesse momento eu tava pensando o quanto pra mim aquela situação não fazia sentido. e eu só estava pensando em como vejo as coisas. e eu costumo dizer que penso muito nos outros, em questão de tentar entender o outro.

e sim, eu entendo de meu pai as coisas que falei. ele faz sacrifícios por mim, me dá tudo que eu preciso, trabalha demais.

mas dessas coisas, quando sou confrontada com coisas simples, eu penso em como estou sendo um peso pra eles, mas também penso "isso está piorando minha ansiedade"

eu sinto que tô me perdendo demais tentando falar tudo que penso sobre a situação. sempre que algo acontece, ou eu tento analisar algo isso acontece. sempre me perco tentando entender cada detalhe. tento sintetizar ao máximo mas parece que só consigo prolongar mais

mas a questão é que toda essa interação, que foi de questionamento sobre atraso, falta de comprometimento, gritos sobre qual era realmente o horário da prova, eu acusando minha mãe de fazer agonia com as coisas, que de algum jeito escalou para "vocês não prestam atenção para o que eu tô sentindo nas situações" e foi se perdendo em "a gente não tem diálogo" e "vocês nunca deram suporte emocional", caiu em um desentendimento total de "desculpa se somos tão ruins"

e o meu maior problema acho que foi bem aí. eu nunca queria dar a entender que não aprecio o que fazem por mim, nem que não estou ciente disso, ou que acho eles pessoas ruins, ou não admiro as coisas que fizeram.

quando falo, quero dizer que eu preciso que eles me conheçam melhor, preciso ter espaço pra sentir. e não achar bobo. e ser levado a sério. preciso que entendam que fazer uma prova não é só fazer uma prova. que meu atraso é melhor do que estar na cama, eu preciso que me validem

mas falei da forma errada, no tom errado, na situação errada porque eu não sei ser sincera de uma forma razoável

e também não sei ser clara

ou não acertei ainda

enfim com tudo isso, depois não tive muita cara de falar com eles, fiquei com vergonha do que tinha causado, e volto a pensar numa coisa que falei antes

teve uma hora que ele falou que "gostaria de entender muito minha mentalidade", o jeito que eu pensava

e eu sempre me perco nisso. fico muito incerta sobre o meu ver das coisas, o que eu penso sobre

tenho muito medo de não estar entendendo nada, de estar pensando de uma forma egoísta demais, de estar cobrando demais

mas uma coisa aconteceu durante a prova

tinha uma questão discursiva onde tinha que citar e descrever as características do trabalho de alexandre wollner e eu gelei. conhecia o nome. importante. tinham dois cartazes da bienal do museu de arte moderna e meu cérebro instantaneamente começou a pensar na vergonha que eu ia passar por não saber responder isso direito. olhei a data nos cartazes 1955-1957. olhei os cartazes. vieram na minha cabeça: bauhaus, formas, estilo geométrico, seriedade e minimalismo, simetria, gestalt. pensei em como poderia falar: ele desenvolveu ao longo de sua carreira o uso de formas e da gestalt, tendo influência da bauhaus, com um estilo sério, minimalista e geométrico.

mas fiquei com medo de estar errado. não queria citar a bauhaus e estar errada. não queria falar nada que poderia estar equivocado e eu não tinha certeza de nada. mas também não poderia deixar em branco a questão. isso tudo sabendo que teria que dar meu caderno de respostas assim que saísse da prova, pra universidade analisar.

então escrevi em quatro linhas, numa letra envergonhada, corrida, quase sem querer estar ali algo sobre gestalt e formas, estilo geométrico.

eu poderia ter feito melhor. não muito, porque realmente não tenho tanto entendimento para descrever. mas poderia ter dito o que sabia de forma mais clara, segura.

quando sai da prova, comentei "meu deus que vergonha essa questão de alexandre wollner" e algumas pessoas concordaram que não sabiam o que escrever, mas falaram coisas parecidas com o que eu tinha pensado, provavelmente tendo discorrido melhor sobre.

e eu pensei "eu não acredito que estava certa"

e as vezes com essas situações em conflito com me sentir totalmente inadequada e egoísta, também penso "mas o que eu to falando não faz sentido nenhum?"

as vezes parece que faz outras não

nov 26 2018 ∞
nov 26 2018 +