Os gritos de dor e desespero do agente do FBI quebravam o silêncio daquele andar e pareciam ecoar seu sofrimento. Fora da cela de contenção, vários corpos estavam desacordados pelo chão. Uma nuvem fina de gás ainda preenchia aquela ala do complexo.

Red Hood usava força para pressionar a cabeça do homem contra o vidro com a mão direita ao mesmo tempo em que usava a esquerda para torcer o braço alheio para trás. A manga longa das vestes do agente se encontrava encharcada com sangue – dele... ou de outros? – e aquele líquido viscoso sujava o tecido escuro da luva usada pelo Outlaw.

O odor pútrido impregnava o ambiente, mas o terror não parava por aí: a poucos centímetros do rosto de Lukas Morrison e usando uma coleira como se fosse um cachorro, Astrid Arkham tinha sua mente completamente corroída pela decomposição e seu único objetivo era conseguir carne humana. Vestida com sua armadura e tendo as mãos acorrentadas para trás, ela se debatia ao tentar, com a boca, alcançar o nariz avantajado de sua vítima fácil.

Era possível dizer que o sumiço do corpo de Astrid havia sido o pontapé inicial para as investigações de Jason há alguns meses e, posteriormente, ela foi também um dos poucos membros de confiança que ele tinha na Task Force Z. Bom, pelo menos quando ela ainda tinha resquícios de sanidade; a quantidade de Lazarus Resin recebida pela Arkham Knight atualmente não era o suficiente para que ela se mantivesse sã. No momento, era como se fosse oca por dentro: existia apenas com seus instintos primitivos.

ㅤ── É uma pena que você tenha cruzado meu caminho, cara. ── Hood era cínico e observava Arkham salivar. O cheiro metálico do sangue, tão próximo e ainda assim tão inalcançável, parecia tirá-la do sério ainda mais. ── ... Digamos que eu tenho algum rancor dessa galera do FBI. Nada tão pessoal assim, agente Morrison.

ㅤ── Prefiro morrer do que entregar o que você quer, seu punk filho da puta! ── As palavras foram cuspidas, mas Jason conseguiu sentir aquele homem tremer por sua situação de vulnerabilidade. A escolha de interrogá-lo não fora aleatória, entretanto; Khal garantiu que Lukas era um dos agentes que estavam perseguindo a mais nova associada de Red Hood. Aquele homem trabalhava tanto para Waller, quanto para o Project Titan. ── Não tenho medo dessa aberração!

ㅤ── ... Hmm, entendo. É realmente uma pena. ── A voz modificada pela tecnologia no elmo soava numa falsa tristeza e, logo depois, assumiu um tom sombrio. ── Mas você deveria saber que eu não sou filho de ninguém. ── Deslizava o rosto de Morrison pelo vidro à prova de balas na medida em que o respondia, aproximando-o da zumbificada Arkham Knight a ponto de deixar que ela conseguisse arrancar um pedaço da pele do maxilar inferior. O federal deixou escapar mais um som que representava seu pavor, mas Hood não deu a menor importância. ── Vai morrer mastigado em vão.

──────────────────

Há algumas noites, Red Hood era cauteloso em seus movimentos para desvendar os planos de Amanda Waller. Ele sabia muito bem o inferno que poderia desencadear se fosse pego. Não era nem de longe a sua prioridade acompanhar a aliança entre países-membros da NATO, mas, desde que conheceu a fugitiva que agora atendia pelo nome Aylin Evcen, o projeto internacional acabou atraindo bastante a atenção do ex-Robin. Agora que trabalhavam juntos com mais frequência do que quando ele só havia oferecido a ela uma nova identidade, Jason Todd estava interessado de verdade.

O Project Titan, de acordo com Lin e com os arquivos que tiveram acesso, se tratava da criação clichê de super-soldados. “Governos do mundo inteiro precisam sentir que têm o controle de algo, é óbvio”, era o que Todd pensava. Essa operação era dividida em dois grupos – o de longo prazo, que envolvia transformar crianças nesses soldados tão obedientes e desprovidos das emoções que as impedissem de fazer o necessário, e o de curto prazo, bem mais simples, em que escolhiam os melhores militares já integrantes das Forças Armadas de cada país-membro que assinou o acordo de sigilo.

O problema do curto prazo é que a simplicidade lhe trazia falhas. O processo de apagar as emoções de um adulto era bem mais delicado do que o de uma criança; seus vínculos afetivos poderiam ser extremamente fortes e, em muitos casos, isso ocasionou a morte de alguns dos melhores. A empresa Astaroth e o governo norte-americano, então, vieram com uma solução: Lazarus Resin, a substância capaz de reviver os mortos.

O composto chegou a ser analisado por pessoas da confiança de Batman quando Red Hood ainda era um membro precioso para o Project Halperin, mas mesmo assim a Lazarus Resin ainda foi considerada como um mistério e bem difícil de ser replicada. O que Jason conseguiu descobrir com o acesso privilegiado aos arquivos e algumas invasões de propriedade privada foi que a substância esverdeada era retirada de um cadáver atlante e seus efeitos vinham de algum resquício de magia.

O primeiro passo para a ressurreição completa, nesse caso, era uma injeção do líquido fluorescente e depois, durante alguns meses, a ingestão de pílulas com esse mesmo composto completava seu propósito. O uso deveria ser feito de acordo com um decaimento exponencial calculado através de dados como altura e peso. A criação da Task Force Z foi um teste e uma demonstração do que em breve poderá ser implantado no setor militar da NATO, desde que descubram como ter acesso a mais da substância milagrosa e como usá-la de modo a suprimir memórias e emoções dos não-mais-cadáveres. Por ainda não se ter os efeitos desejados, a maioria absoluta do Conselho vetou sua aplicação. Mas até quando?

sep 30 2022 ∞
nov 4 2022 +