Jason não planejou em momento algum atender à festa, mas quis deixar sua marca de algum modo: lá no fundo, ele gostava de alguns. Não muitos, mas se esforçava.

Apesar do La Speranza ser um terreno neutro, nada além da lei o impedia de cometer um pequeno delito. O que não significava muito para ele já que, com todos ocupados, sequer iam notar se fizesse um trabalho rápido. Caminhando vagarosamente ao redor do estabelecimento, esperou o momento oportuno para hackear as câmeras de segurança por um breve período. Feito isso, ele colocou a mochila no chão e começou a escrever com o que parecia ser sangue, mas era só uma tinta fajuta e lavável na cor vermelha.

“Feliz Natal, seus animais imundos”

Apressadamente ele se desfez dos materiais e saiu do local de boné, sem chamar atenção. Mesmo que não assinasse sua obr...

Já fazia mais de dez minutos que Jason estava sentado naquela poltrona vermelho-sangue e tinha os olhos fixos na psicóloga – psiquiatra, terapeuta? –. O silêncio na sala era pesado, desagradável. Já havia passado forçadamente por outros profissionais antes, mas não eram anos de estudo que o convenciam a se abrir ou a colaborar minimamente. Não, ele precisava querer.

ㅤ── Funcionaria melhor se você falasse. ── A mulher ruiva iniciou mais uma de suas tentativas. Aquilo tudo foi ideia de Batman, o rapaz estava ali contra a própria vontade. O que não significava que ele não podia tirar alguma diversão disso.

Apesar de tudo, ele era Red Hood ali. A máscara de dominó cobria seu rosto, não o elmo, para que a profissional pudesse ler suas expressões. “Um saco” , ele pensou. O rapaz inclinou o tronco de modo a apoiar os antebraços nas coxas, se mantendo com as pernas abertas, e ana...

Ninguém aguentava mais as idas e vindas de Joker.

Gotham City podia muito bem ser a cidade do caos, mas com ele solto pelas ruas... Tudo tendia a piorar em escala exponencial. Jason era contra mortes desnecessárias, mas a morte dele era vista como extremamente necessária pela maioria – não por Batman, é claro. Quase como um fiel escudeiro, o Morcego insistia em impedir que qualquer um cruzasse a linha por culpa de um dos piores psicopatas conhecidos. “A fucking bat-bullshit”, Jason sempre pensou.

E era por isso que o ex-Robin havia decidido ir, mesmo que sozinho, atrás de Joker. Precisava encerrar aquilo de uma vez por todas-- Ou talvez estivesse se deixando levar fácil demais pelos sentimentos intensos sem a namorada ali para impedi-lo de fazer alguma loucura. Artemis havia voltado para Bana-Mighdall por alguns dias e, apesar de saber que ela estava a salvo, não deixava de ficar ansioso. E estressado. Principalmente estressado.

Na sacada do novo apartamento em Gotham City, Jason estava em pé e apoiado no parapeito, de costas para a paisagem da cidade. Só vestia uma calça de moletom cinza e calçava um par de meias sujas por culpa de tanto contato direto com o chão, podendo sentir a brisa leve na nuca e nas costas. Não era como se odiasse ver o pôr do sol na cidade – era uma de suas atividades favoritas desde a época de Robin, junto com olhar as estrelas à noite –, mas sua atenção estava completamente tomada pelo ar que entrava e saía de seus pulmões. O estresse do trabalho junto a Evcen – Yasemin Ozberk? Não, ela o mataria se fosse chamada assim – era fichinha se comparado com os conflitos em sua vida pessoal: Bruce tinha certeza, como um bom paranóico, que algo estava prestes a acontecer e tinha agora essa cisma em reunir a família; haviam muitas suspeitas de que Joker estava de volta à G...

Já fazia algum tempo desde que Red Hood havia se reconectado à Liga dos Assassinos , um pedido que veio de uma pessoa que tinha certeza que somente ele poderia ajudar. Foi testado exaustivamente por semanas, mas isso não o fazia digno de confiança ainda. Jason sequer se importava, só precisava de algumas informações e causaria um novo afastamento.

Sabendo disso e tendo a certeza de ser uma oportunidade única, uma mulher desconhecida fez uma proposta de parceria a Madame Rouge: tudo o que ela precisava fazer era se passar por Talia Al Ghul e derrubar Red Hood.

Na noite de sábado, ele caiu em uma emboscada e levou um tiro que o fez perder muito sangue. Com seu sistema de comunicação hackeado e agora indisponível, não foi fácil para Jason chegar a uma cabine telefônica naquelas condições, mas conseguiu entrar em contato com Oracle e sussurrar um “ajuda” antes que suas pernas cedessem. No chão...

Cat-Demon olhava fixamente para a tela do notebook ao revisar o posicionamento de cada segurança da boate pela câmera de vigilância do local, decorando os caminhos novamente. Apesar da ideia ser não fazer um alarde muito grande, Red Hood observava o bar pelo parapeito do prédio em que estavam à procura de possíveis saídas para o caso de qualquer detalhe do plano correr errado quando a mais nova jogou uma pedrinha em seu braço e o tirou de seus pensamentos. Cruzando os braços em uma típica postura defensiva, foi até a mais nova quando ela fez um sinal com a cabeça e virou o notebook para ele de modo a mostrar os seguranças pelo caminho.

ㅤ── Parece que todo mundo nessa família só gosta de mulher mandona... ── Foi o que Jason resmungou baixo quando se aproximou para observar a tela, tentando captar os mínimos detalhes sobre os homens que teria que enfrentar.

ㅤ── Você saiu apressado no outro dia e mal responde às minhas mensagens, o que esperava que eu fizesse? ── O sorriso de Faye era irritantemente sincero. Não tinha deboche ali, e era um contraste com a expressão neutra do rapaz. ── Minha avó sumiu, Jason. Por algum motivo, ela sempre confiou muito em você.

Não era como se Todd planejasse se explicar sobre a falta de contato; não devia satisfações a ninguém. Os dois estavam parados no meio da rua, bem em frente a uma cafeteria. Ela, com seus um metro e sessenta, impedia um homem de quase dois metros de seguir para casa. Estar naquela vizinhança de dia e em um encontro inesperado daqueles, além de tudo, era um prato cheio para um paparazzi que poderia vir a perturbá-los – ele precisou lidar com vários desses no último mês. Era um dos problemas de ser Jason Todd no momento.

[ KHALID’S PoV ]

O garoto gastou horas do dia seguindo as poucas pistas que conseguiu. Todas o levaram até um lugar distantemente familiar.

ㅤ── É aqui!! ── Exclamou e tratou de se esgueirar no beco, acessando o subsolo através de um sumidouro no chão. ── Debaixo do seu nariz, mané.

Provocou um policial sem fazer muito barulho, e ele não o ouviu. O lugar era literalmente abaixo de uma delegacia. Ele sabia o caminho a tomar, e o fez correndo, talvez por receio de ser pego antes da hora.

Deu de cara com um enorme acesso fechado. Parecia um ferro muito pesado para ele abrir. Dessa vez, sentiu vontade de não estar sozinho. Que a pessoa que ele precisasse ver já estivesse ali. Bateu nas portas, o barulho não foi tão alto. Escolheu chutar, e então BAM!

Esperou, quase impaciente, mas esperou. E...

“... Podemos trabalhar juntos”. As palavras de quase três anos atrás proferidas pelo pai adotivo ecoavam na mente de Jason Todd enquanto a água caía por seu corpo. As dores dos ferimentos recentes não se comparavam com o turbilhão de pensamentos que dilaceravam sua mente naquela madrugada. No que havia se metido dessa vez?

Jason nunca se sentia bem-vindo em lugar nenhum, essa era a verdade. Mesmo estando com outras pessoas, se sentia completamente desconectado, sobrando em todos os níveis possíveis, e era por isso que ele havia escolhido o trabalho solo quando pegou aquele caso.

Podia contar com Artemis? Talvez, mas ele sabia que ela estava em busca de seu o próprio lugar no Mundo dos Homens – além disso, ele sabia com quem ela andava trabalhando; incomodado, mas sem coragem para admitir, ele acabou afastado. Por respeito aos motivos da namorada, ele não tocava nesse assunto mais do que o necessário. Agora, ele se arrependia disso e de não ter sido sinc...

Os gritos de dor e desespero do agente do FBI quebravam o silêncio daquele andar e pareciam ecoar seu sofrimento. Fora da cela de contenção, vários corpos estavam desacordados pelo chão. Uma nuvem fina de gás ainda preenchia aquela ala do complexo.

Red Hood usava força para pressionar a cabeça do homem contra o vidro com a mão direita ao mesmo tempo em que usava a esquerda para torcer o braço alheio para trás. A manga longa das vestes do agente se encontrava encharcada com sangue – dele... ou de outros? – e aquele líquido viscoso sujava o tecido escuro da luva usada pelo Outlaw.

O odor pútrido impregnava o ambiente, mas o terror não parava por aí: a poucos centímetros do rosto de Lukas Morrison e usando uma coleira como se fosse um cachorro, Astrid Arkham tinha sua mente completamente corroída pela decomposição e ...