Já fazia mais de dez minutos que Jason estava sentado naquela poltrona vermelho-sangue e tinha os olhos fixos na psicóloga – psiquiatra, terapeuta? –. O silêncio na sala era pesado, desagradável. Já havia passado forçadamente por outros profissionais antes, mas não eram anos de estudo que o convenciam a se abrir ou a colaborar minimamente. Não, ele precisava querer.

ㅤ── Funcionaria melhor se você falasse. ── A mulher ruiva iniciou mais uma de suas tentativas. Aquilo tudo foi ideia de Batman, o rapaz estava ali contra a própria vontade. O que não significava que ele não podia tirar alguma diversão disso.

Apesar de tudo, ele era Red Hood ali. A máscara de dominó cobria seu rosto, não o elmo, para que a profissional pudesse ler suas expressões. “Um saco”, ele pensou. O rapaz inclinou o tronco de modo a apoiar os antebraços nas coxas, se mantendo com as pernas abertas, e analisou silenciosamente a mulher à frente antes de falar.

ㅤ── Batman achou que você ser ruiva funcionaria melhor, já que metade da batfamily parece ter uma queda por gente ruiva. Mas não, não tá me causando efeito nenhum. ── Ele havia dado de ombros, já que achava ela tão atraente como qualquer mulher bonita: não era relevante, considerando o quanto a convivência social o irritava. Ah, ele não era Arsenal. ── Você parece... Sabe o que você parece? ── Quando ela assentiu com a cabeça, Todd continuou: ── Só uma iniciante na carreira que é desesperada de amor pela Liga da Justiça, pelos heróis e pelos vilões tão interessantes. Mas mais pelos heróis, considerando onde está agora. Deve ter ficado toda animada quando o Batman pediu por você, porque eu sei que ele fez isso, e deve ter ficado intrigada que um caso como o meu foi parar nas suas mãos. ── De olhos discretamente arregalados, ela o observava com uma clara curiosidade. Passou a fazer anotações no papel que tinha na prancheta, fazendo com que o rapaz risse pelo nariz em deboche. “Claro, ela vai trabalhar com o que tem”, ele pensou ao se afundar na poltrona outra vez, mas agora com as mãos entrelaçadas por trás da cabeça em um tipo de apoio. Não tirou os olhos profundamente azuis do rosto dela em momento algum, como se ela fosse só uma presa. ── O fato é que eu não sou bom, nem sou ruim. Não vai conseguir me ler do mesmo jeito que faria com esse bando de otário em crise que cê costuma lidar.

ㅤ── Você tem um anel de compromisso? ── Ela levantou o olhar das anotações e apontou com a caneta, enquanto ele precisou esconder o incômodo que a pergunta lhe causou. ── A pedra é da cor dos seus olhos. Me parece bem especial, ou você teria retirado. Não é um tipo de erro que vocês cometem.

Red Hood continuou em silêncio, mas a mulher finalmente parecia ter conseguido algo e não iria desistir.

ㅤ── Você falou sobre ruivas e isso pareceu importante pra você. É por você já namorar alguma mulher-- Desculpe. É por você namorar alguma pessoa ruiva, a pessoa que te deu esse anel de compromisso?

Como o silêncio durou até o final da sessão, ela precisou tentar outra abordagem. Se Red Hood voltaria ou não àquele consultório, pouco importava, mas ela gostaria de indicar a ele o hábito da escrita. Um diário.