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Tudo que eu penso em escrever está repleto de você, eu estou me intoxicando. Por mais que a nossa distância seja tanta que minhas pernas chegam a fraquejar… Eu ainda o sinto aqui, por todo meu corpo, nos meus pulmões, na palma das minhas mãos. Eu posso senti-lo tomando uma parte de mim, como um parasita que se nega a deixar meu corpo. E eu sinto, eu sinto você me destruindo completamente por dentro e por fora, vejo você se alimentando de tudo que sobrou de bom. Você suga a minha luz, e eu devo rir pois algum dia te comparei com ela… Sim, eu fui cego, cego por todas as mentiras e falsas esperanças acumuladas na ponta de sua língua, você tirou tudo de mim aos poucos, primeiro foi toda a minha visão, tudo em você tomou conta de cada coisinha que eu via, você havia sido incluso em todas as minhas memórias, e por enquanto isso estava bem, porém você chegou na minha felicidade, você a levou embora, sem dó ou piedade, fez dela a sua. Você habita outro corpo agora, mas os vestígios do seu estrago estarão aqui para sempre, me devorando, me matando, eu estou acabando.
Sempre esperei, esperei você voltar, e como eu fui paciente, logo eu, eu costumo ser um poço de impaciência, mas com você foi diferente. Eu sentei na cadeira, e o esperei até o ultimo segundo, as vezes acho que eu ainda estou te esperando, sentado estático no mesmo lugar, porém minha mente está desligada, você é o único que pode me tirar daqui. Mas você nunca chega, nunca.
FLOWERS
Eu não consigo respirar. Eu tento colher as flores em meus pulmões mas eu não consigo. Minhas mãos estão acorrentadas, meus olhos estão fechados e minha mente se encontra num blur, se afogando no rio de mortas esperanças, meus suspiros sendo a única coisa que meus ouvidos podem ouvir.
Está escuro, eu estou com medo, eu sei exatamente onde achar a luz mas minhas pernas vacilam no caminho. Me vejo caído no chão, por dias, meus olhos se acostumaram com a escuridão e meu corpo ao se manter deitado.
Me sinto isolado, sinto que nunca ninguém conseguirá me tirar desse lugar, eu grito por socorro mas meus gritos são abafados pela minha vergonha, o meu medo de sair talvez seja maior do que o de continuar. Eu posso ouvir os passos deles procurando por mim mas eles parecem nunca chegar, cada segundo mais distantes. Até sumirem completamente.
Estou me acostumando com o sentimento de ser mantido preso dentro desse lugar escuro, me sinto desprovido de fome e sede. É como se eu estivesse sofrendo de Síndrome de Estocolmo e as minhas memórias fossem o sequestrador.
E tudo é sobre mim, as flores cresceram aqui porque eu as permiti, eu o deixei entrar e meu maior erro foi acreditar nas coisas erradas. Minha mente que se considerava forte agora chora em desgosto enchendo cada vez mais o rio, prestes a transbordar, sua correnteza bate forte me deixando tonto.
Sempre te comparei com o mar, porém vacilei ao não me comparar com o mesmo. Acredito que eu, esse ser jogado no chão frio com os joelhos machucados não seja o mar, mas sim sua complexa mente conturbada, eu sou chuva e minha mente é o mar… Tempestade marítimas são as piores. Elas destroem tudo em sua volta, eu sinto muito que você seja uma delas, sinto muito por mim mesmo por ser uma delas também.
Eu aprendi a me culpar menos, porém sempre fui ciente que me deixei levar, eu sou atraído pelo medo e você me amedrontava, mesmo com meus olhos fechados eu conseguia vê-lo, sorrindo falsamente, mantendo sempre sua cara de indefeso. Isso sempre foi o que me mais me assustava, eu nunca soube ao certo o que você sentia, eu nunca sabia se era real, se era você ou apenas um personagem. As vezes me pergunto se eu realmente te conheço… Se alguma pessoa te conhece, e se você se conhece… Incógnita.
Sempre amei matemática, adorava calcular e recalcular até achar a resposta, o final do mistério. E eu tentei fazer isso com você, te decifrar, te entender, mas era mais complicado que uma simples fórmula de bhaskara… Você foi a coisa mais complexa que eu já toquei, que eu já amei, e isso não é um elogio, pois para minha mente ansiosa você se tornou uma ameaça, eu costumo rejeitar o desconhecido, fugir de tudo que é difícil. Porém dessa vez eu falhei em fugir, entrei no seu labirinto por acaso, por pura curiosidade de uma mente frágil e ouso dizer “pura”. E sim, Romeu, eu me perdi, me perdi intensamente, ralei meus joelhos tentando sair. Era frio e solitário, eu estava sozinho, como sempre sozinho, correndo sozinho, chorando sozinho… ‘Amando sozinho.
A mais doce decepção, Romeu. Éramos proibidos, agridoce, perfeito para meu agrado. Éramos o que costumam chamar de opostos, eu adorava. Me via em grandes casarões, vestes de luxo, dançando, sentindo seu corpo perto de mim, sentindo o calor, uma mancha de vinho tinto em seu colarinho.. Mas, A Romeu… Você era frio, mas não o frio que eu me atrevo a apreciar, não aquele que apetece, você era o frio cortante, que machucava e avermelhava minha pele, me fazia tremer. Tec, Tec, Tec, meus dentes batiam uns contra os outros, e você se sentava na lareira, o vinho tinto era batom, e é tão triste não saber nem ao menos de qual “delas” ele pertence.