- Mrs. Dalloway disse que ela própria iria comprar as flores.
- (...) ser esta Mrs. Dalloway; nem Clarissa: Mrs. Dalloway somente.
- Tinha a perpétua sensação, enquanto olhava os carros, de estar fora, longe e sozinha no meio do mar; sempre sentira que era muito, muito perigoso viver, por um só dia que fosse.
- Era essa coisa central, que se comunica; alguma coisa de cálido que quebra a superfície e encrespa o frio contato de homens e mulheres, ou de mulheres entre si.
- A verdade é que às vezes não podia resistir ao encanto de uma mulher, não de uma menina, de uma mulher que lhe confessava, como às vezes acontecia, alguma aventura, algum deslize. Ou fosse por piedade, ou pela beleza, ou por ser mais velha que a outra, ou por algum acidente fortuito – como um suave perfume, ou um violino na sala próxima (tão estranho é o poder do som em certos momentos), ela então sentia indubitavelmente o que os homens sentem. Só por um momento; mas era bastante. Era uma súbita revelação, como um rubor que se quisesse deter, mas a quem a gente se abandonasse, sentindo-o estender-se; e vai-se até o último limite, e tem-se uma vertigem, e sente-se que o mundo se aproxima carregado de assombrosas significações; um concentrado êxtase que oprime, até que enfim se rompe, derramando-se com extraordinário alívio sobre as dores e as chagas!
- Estava sentada no chão - foi sua primeira impressão de Sally -, estava sentada no chão, com os braços rodeando os joelhos e fumando um cigarro.
- Era de uma extraordinária beleza, do gênero que ela mais admirava
- Sally sempre dizia que tinha sangue francês nas veias, que um antepassado seu estivera com Maria Antonieta, lhe haviam cortado a cabeça, e deixara um anel com um rubi.
- O estranho, quando recordava, era a pureza, a integridade de seus sentimentos para com Sally. Não era como se sente por um homem. Era completamente desinteressado.
- o pressentimento que alguma coisa fatalmente as separaria
- Assim, num dia de verão, as ondas se juntam, balançam e tombam; e o mundo inteiro parece dizer: ''Isso é tudo''
- ''Não mais temas'', diz o coração.
- Era terrivelmente estranho, pensava ele, como Clarissa ainda tinha o poder, ao aproximar-se num frêmito de vestes, de fazer com que a lua, que ele detestava, se erguesse do terraço, em Bourton, sobre o céu de verão.
- Não, não! Não estava mais enamorado de Clarissa! Apenas sentia, depois de vê-la naquela manhã (...), que lhe era impossível deixar de pensar nela; a sua imagem voltava-lhe incessantemente, como um viajante adormecido que caísse de vez em quando sobre o seu ombro, com os solavancos do trem
- ''Eu te amo''. Por que não? E na verdade era um milagre, quando se pensava na guerra, e em todos aqueles pobres camaradas, que tinham toda uma vida diante de si, e agora enterrados, e quase esquecidos; um milagre. Ia ele assim, através de Londres, para dizer a Clarissa, com aquelas mesmas palavras, que a amava.
- este é um privilégio da solidão: pode a gente fazer o que bem nos parece. Pode-se até chorar, se ninguém está olhando.
oct 19 2022 ∞
may 8 2023 +