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  • Havia uma senhora de olhos azuis e rosto maravilhosamente enrugado, de aproximadamente setenta anos, usando uma babushka 25 e um casaco largo. [...] Quando ela se virou para se sentar, vi que carregava na blusa sob o desalinhado cardigã pelo menos três tipos de condecorações militares, decoradas com honrarias. Medalhas dos Heróis da República, eu viria a saber depois. Recebidas pelo trabalho duro. Isto foi algo que notei em todo lugar: as pessoas muito idosas na Rússia têm uma característica peculiar que desejo aprender e nunca perder, uma resiliência sem afetações, uma firme e reconfortante consciência do lugar que ocupam no mundo.
  • Nunca saberei o nome da jovem muito gentil que abriu sua casa para mim, mas jamais a esquecerei [...] Eu falei em inglês e ela falou em russo, mas senti profundamente que nosso coração falava a mesma língua.
  • Penso que os Estados Unidos têm problemas específicos, que a Rússia tem problemas específicos, mas, basicamente, quando encontramos pessoas que partem de uma postura centrada no ser humano, e não no lucro, as soluções podem ser bem diferentes. Fico me perguntando como problemas humanos similares serão resolvidos. No entanto, não estou convencida por completo de que os seres humanos sejam prioridade aqui também, embora aqui se fale muito mais em prol dessa ideia do que nos Estados Unidos.
  • Penso que há muitas coisas na Rússia que as pessoas, agora, consideram normais. Penso que acham normal que serviços médicos e hospitalares sejam gratuitos. Acham normal que as escolas e as universidades sejam gratuitas, assim como o pão de cada dia, até mesmo acompanhado de uma rosa ou duas, ainda que sem carne. 33 Todos nós somos mais cegos relativamente ao que temos do que ao que não temos.
  • O tipo de luz sob a qual examinamos nossas vidas influencia diretamente o modo como vivemos, os resultados que obtemos e as mudanças que esperamos promover através dessas vidas. É nos limites dessa luz que formamos aquelas ideias pelas quais vamos em busca de nossa mágica e a tornamos realidade. Trata-se da poesia como iluminação, pois é através da poesia que damos nome àquelas ideias que – antes do poema – não têm nome nem forma, que estão para nascer, mas já são sentidas. Essa destilação da experiência da qual brota a verdadeira poesia faz nascer o pensamento, tal como o sonho faz nascer o conceito, tal como a sensação faz nascer a ideia, tal como o conhecimento faz nascer (antecede) a compreensão.
  • Dentro de cada uma de nós, mulheres, existe um lugar sombrio onde cresce, oculto, e de onde emerge nosso verdadeiro espírito, “belo/ e resistente como castanha/ pilares se opondo ao (seu) nosso pesadelo de fraqueza” 37 e de impotência. Esse nosso lugar interior de possibilidades é escuro porque antigo e oculto; sobreviveu e se fortaleceu com essa escuridão. Dentro desse local profundo, cada uma de nós mantém uma reserva incrível de criatividade e de poder, de emoções e de sentimentos que ainda não foram examinados e registrados. O lugar de poder da mulher dentro de cada uma de nós não é claro nem superficial; é escuro, é antigo e é profundo.
  • Quando olhamos a vida ao modo europeu como apenas um problema a ser resolvido, confiamos exclusivamente em nossas ideias para nos libertar, pois elas, segundo nos disseram os patriarcas brancos, são o que temos de valioso. No entanto, quando entramos em contato com nossa ancestralidade, com a consciência não europeia de vida como situação a ser experimentada e com a qual se interage, aprendemos cada vez mais a apreciar nossos sentimentos e a respeitar essas fontes ocultas do nosso poder – é delas que surge o verdadeiro conhecimento e, com ele, as atitudes duradouras.
  • Os patriarcas brancos nos disseram: “Penso, logo existo”. A mãe negra dentro de cada uma de nós – a poeta – sussurra em nossos sonhos: “Sinto, logo posso ser livre”.
oct 19 2022 ∞
oct 23 2022 +