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A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O ENSINO MÉDIO: VELHOS PROBLEMAS, NOVOS DESAFIOS.

O cenário da formação de professores:

  • DADOS COM BASE NO SENSO 2013
  • Em todas as redes, 91% são formados em curso superior, sendo que 87% são formados em cursos de licenciatura.
  • Perfil: branco, urbano, disciplinar e inserido na rede pública estadual, majoritariamente em um único estabelecimento.
  • Apenas 53% dos professores que atuam no ensino médio tem formação compatível com a disciplina que lecionam.
  • A disciplina mais crítica é física, em que apenas 25,7% dos professores têm formação específica; química, artes e língua e literatura estrangeira têm aproximadamente 40$ dos professores com formação específica; nas demais disciplinas o percentual de professores que têm formação específica fica entre 50% e pouco mais que 60% (educação física é exceção com 77,2%).

3---------------------------------------------------------------------------------------------------3 QUESTÕES PERTINENTES À FORMAÇÃO DOS PROFESSORES

  • Disparidade entre o número de licenciados formados nos últimos 25 anos e o número de licenciados que atuam efetivamente na educação básica, que fica entre 30% e 40% na maioria das áreas.
  • Apenas a ampliação da oferta de formação em cursos de licenciatura não garante o atendimento às necessidades do ensino médio, uma vez que a maioria dos licenciados não atuam como professor.
  • A hipótese mais consistente talvez seja a baixa atratividade da carreira, em face de sua desvalorização social: baixos salários, precárias condições de trabalho, precário nível de profissionalização, alunos cada vez menos comprometidos, baixo reconhecimento, alto nível de esstresse e crescente intensificação das tarefas.
  • Conclusão dos dados: a política de formação de professores só tem sentido quando integrada à estruturação da carreira docente, à política salarial que assegure a dignidade do professor e à garantia de condições adequadas de trabalho.
  • A qualificação individual tem impacto reduzido sobre a qualidade do trabalho, quando não se insere em uma dinâmica mais ampla e intencional de qualificação do coletivo de professores a partir da escola, compreendida enquanto totalidade, uma vez que a qualidade do trabalho da escola resulta do trabalho coletivo dos profissionais que a integram. É preciso desenvolver processos intencionais e sistematizados que envolvam os docentes que atuam na mesma escola ou ao menos no mesmo processo pedagógico, uma vez que, pela via do trabalho individual, não existe possibilidade de transformação.
  • Do total de professores de educação básica matriculados no ensino superior, em cursos de graduação, 45,8% estão em cursos de educação a distância, sendo que mais de 50% das matrículas são em cursos de Pedagogia, seguido dos cursos de Letras, Matemática e História.

O campo da formação de professores:

  • Quando se trata da formação de professores, o entendimento corrente é de que esse processo se resume a percursos formativos sistematicamente desenvolvidos em cursos de formação, em instituições de ensino superior.
  • [...] as políticas têm como ojeto a formação inicial e não integram as políticas relativas ao trabalho docente, em especial no que diz respeito à profissionalização e às condições de trabalho, que, de modo geral, são tratadas em outra esfera, a do financiamento.
  • O debate sobre formação de professores permanece nos limites da lógica da reprodução capitalista, sem a necessária compreensão do seu caráter ideológico; a consequência mais imediata desta compreensão parcial é a crença de que, com um bom percurso formativo, inevitavelmente teremos bons professores. O caráter reducionista e simplificador desta concepção resulta da desconsideração da relação entre as esferas de produção e reprodução das relações capitalistas, cujo resultado elide a constatação de que a formação só se materializa na ação docente que ocorre em situações concretas determinadas. Assim, é fácil culpar o professor, a proposta de formação e a instituição que o formou pelos parcos resultados de seu trabalho com alunos, em escolas que se propõem a atender os filhos dos que vivem do trabalho, com uma proposta pedagógica burguesa e sem condições mínimas de trabalho, incluindo a parca remuneração e a desvalorização social.

1---------------------------------------------------------------------------------------------------1 O trabalho docente no âmbito capitalista.

  • O trabalho docente não escapa à dupla face do trabalho capitalista: produzir valores de uso e valores de troca;
  • O trabalho docente não escapa à lógica da acumulação do capital, direta ou indiretamente, pela compra da força de trabalho do professor e pela natureza de seu trabalho, que contraditoriamente forma pessoas que atenderão às demandas do trabalho capitalista, cuja inclusao depende do disciplinamento para o qual a escola contribui;
  • Embora a finalidade do seu trabalho seja a formação humana, ele está atravessado pelas mesmas contradições que caracterizam o capitalismo;
  • As propostas de formação de professores podem estimular as práticas revolucionárias ou retardá-las, à medida que permitam ou não a compreensão do mundo do trabalho capitalisco com todas as suas contradições; que possibilitem o desenvolvimento de práticas conservadoras ou estimulem o desenvolvimento de sujeitos críticos e criativos, comprometidos com a construção de outras relações sociais.
  • A qualidade da formação, contudo, vai depender das concepções ontológicas e epistemológicas que sustentam essas propostas curriculares, a partir das quais se formulam diferentes concepções de homem, de trabalho e de sociedade.

O trabalho docente é trabalho não material

  • O trabalho é não material, não se separando do produtor;
  • Os docentes são, como os demais trabalhadores, atingidos pela crise do trabalho, que se materializa pela intensificação das atividades precarizadas.

3---------------------------------------------------------------------------------------------------3 Considerações finais:

  • A formação de professores, à medida que se constitui em estratégias de reprodução do capital, não se separa da esfera da produção, com o que há propostas diferenciadas e desiguais que atendem a diferentes necessidades de formação para as cadeias produtivas;
  • Necessidade de considerar, na formação do professor, estudos e práticas que lhe permitam apropriar-se das diferentes formas de leitura e interpretação da realidade que se constituem em objeto dos vários campos do conhecimento, mas em particular da filosofia, da história, da sociologia e da economia, bem como estabelecer interlocução com os vários especialistas.
  • Ao professor não basta conhecer o conteúdo específico de sua área; ele deverá ser capaz de transpô-lo para situações educativas, para o que deverá conhecer os modos como se dá a aprendizagem em cada etapa do desenvolvimento humano, as formas de organizar os processos de aprendizagem e os procedimentos metodológicos próprios a cada conteúdo.

[...] compromisso com a construção coletiva de um projeto pedagógico mais orgânico às necessidades dos que vivem do trabalho, é um dos caminhos possíveis para a construção de propostas de formação de professores alternativas à lógica capitalista de disciplinamento.

feb 6 2015 ∞
may 8 2015 +