No exemplo em questão, não ocorreram explicações da mesma natureza que as produzidas quando professores estão tentando explicar algum fenômeno para os alunos.
Alguns características:
- As alunas sabiam que as suas respostas estavam sendo avaliadas e que o contexto social no qual a atividade era realizada gerava algumas implicações imediatas.
- Exemplo: alguém poderia responder que a água se inclinou porque Deus quis ou algo do tipo, mas as alunas reconheciam que uma resposta dessa natureza não teria legitimidade dentro daquele contexto.
- As alunas possuíam acesso a algumas explicações que poderiam ser consideradas adequadas para explicar o fenômeno em questão e em grande parte a atividade do ponto de vista delas consistia em identificar qual das explicações que constavam no seu kit (nas quais elas naturalmente possuíam diferentes graus de domínio) seria a mais adequada para resolver a questão.
- Parte das alunas identificou a explicação que seria considerada adequada pelos professores corretamente enquanto que outra parte não. Durante o debate, as alunas que responderam corretamente não tinham confiança suficiente no seu próprio julgamento para se empenharem mais fortemente a tentar persuadir as colegas.
- Em certo momento uma das colegas que havia empregado uma explicação inadequada se convenceu da adequação da explicação utilizada pelas colegas (que argumentavam em favor da inércia) e passou a apoiar o ponto de vista das colegas.
- Uma das alunas que adotou um ponto de vista equivocado continuo a demonstrar resistência à explicação das colegas, mesmo quando foram apontadas falhas da sua própria explicação.
Pergunta de Bakhtin: Quem está explicando?
- Seria bem inadequado imaginar que cada aluna pensou individualmente na sua própria resposta a partir de um vácuo cultural. São todas alunas de um curso de licenciatura em física e haviam estudado (e assim tido acesso a) explicações científicas pré-estabelecidas aceitas por aquele contexto.
- Em (ao menos) uma das explicações inclusive, as alunas utilizaram o mesmo exemplo que havia sido utilizado em uma das aulas anteriores (exemplo do avião) para explicar o fenômeno, caso de ventrilocução e heteroglossia. Alguns dos pontos que Bakhtin destaca que poderiam ser observados nessa questão são os seguintes: