ㅤ ‹ morangos mofadoscaio fernando abreu

  • te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez.
  • os desertos não param nunca de crescer, sabia?
  • iluminados pelas fosforescência das ondas do mar, plâncton, ele disse, é um bicho que brilha quando faz amor. e brilhamos.
  • há um excesso de cores e de formas pelo mundo. e tudo vibra, pulsátil, fremindo.
  • parecia uma menina cheia de fé em tudo aquilo que suspeitava real, embora invisível.
  • não choro mais. na verdade, nem sequer entendo porque digo mais, se não estou certo se alguma vez chorei. acho que sim, um dia. quando havia dor. agora só resta uma cosa seca. dentro, fora.
  • para onde ia a parte das coisas que não cabia na própria coisa?
  • meditarias: as pessoas falam coisas, e por trás do que falam há o que sentem, e por trás do que sentem há o que são e nem sempre se mostra. há os níveis não formulados, camadas imperceptíveis, fantasias que nem sempre controlamos, expectativas que quase nunca se cumprem e sobretudo como dizias, emoções.
  • meus dias são sempre como uma véspera de partida. movimento-me entre as pontas como quem sabe que daqui a pouco já não vai estar presente.
  • quando eu olhar a noite enorme do equador, pensarei se tudo isso foi um encontro ou uma despedida.
  • mas sabes principalmente, com uma certa misericórdia doce por ti, por todos, que tudo passará um dia, quem sabe tão de repente quanto veio, ou lentamente, não importa. por trás de todos os artifícios, só não saberás nunca que nesse exacto momento tens a beleza insuportável da coisa inteiramente viva.
mar 21 2020 ∞
oct 15 2021 +