• "O objetivo desta técnica do efeito de distanciamento era conferir ao espectador uma atitude analítica e crítica perante o desenrolar dos acontecimentos."
  • "Não se aspirava, em suma, pôr o público em transe e dar-lhe a ilusão de estar assistindo a um acontecimento natural, não ensaiado."
    • com sua instrução para que a peça mostre o seu próprio fazer, que os espectadores estejam a todo tempo conscientes de que no palco estão atores interpretando e não um acontecimento real, brecht deixa claro que a obra deve renunciar ao seu caráter de aparência
  • "No entanto, o ator, ao esforçar-se para reproduzir determinadas personagens e para revelar o seu comportamento, não precisa renunciar completamente ao recurso da empatia. Servir-se-á deste recurso na medida em que qualquer pessoa sem dotes nem pretensões teatrais o utilizaria para representar outra pessoa, ou seja, para mostrar o seu comportamento. Todos os dias, em inúmeras ocasiões, se vêem pessoas mostrando o comportamento de outras (as testemunhas de um acidente demonstram aos que vão chegando o comportamento do acidentado; este ou aquele brincalhão imita, zombeteiro, o andar insólito de um amigo etc.), sem que essas pessoas tentem induzir os espectadores a qualquer espécie de ilusão. Contudo, tanto as testemunhas do acidente como o brincalhão, por exemplo, é por empatia para com as suas personagens que se apropriam das particularidades destas. O ator utilizará, portanto, como ficou dito, este ato psíquico. Deverá consumá-lo, porém -- ao invés do que é hábito no teatro, em que tal ato é consumado durante a própria representação e com o objetivo de levar o espectador a um ato idêntico --, apenas numa fase prévia, em qualquer momento da preparação do seu papel, nos ensaios."
    • um tanto para discutir. 'empatia' é um conceito obtuso, é melhor pensar em termos de tipos de identificações. um pressuposto constitutivo para a fruição da narrativa realista clássica é a identificação histérica, isto é, uma identificação em que não há investimento sexual e em que o eu do espectador se identifica com o do personagem (mais proeminentemente, com o protagonista) a partir de um elemento em comum, com base no que se estabelece uma "apropriação baseada na pretensão a uma etiologia comum" (freud, o eu e o isso). por meio dela, o espectador projeta seus conflitos na história e 'vive pelo personagem'. essa identificação pode ser regressiva se a fruição da narrativa se torna um substituto da satisfação real e produz a adequação do espectador com respeito a suas frustrações; mas pode ser enriquecedora se ela fornece, para o espectador, material para a elaboração de seus conflitos, o que depende, é claro, de uma distância reflexiva em relação à narrativa e, portanto, de um afrouxamento da identificação. se o resultado será um ou outro depende tanto da constituição psíquica do espectador quanto da constituição estética da narrativa.
mar 4 2020 ∞
mar 20 2020 +