"Modo de produção" é um conceito formal no sentido de que independe do "conteúdo material" dos valores que produz. Nesse sentido que a mercadoria é uma forma, a circulação da mercadoria é uma forma, o trabalho abstrato é uma forma, porque todas essas categorias independem da materialidade dos indivíduos e dos valores de uso específicos envolvidos no processo.

"Modo de produção" não é um conceito empírico porque ele não deriva somente da experiência imediata, mas da mediação da concretude das relações sociais que ele descreve pela perspectiva da totalidade da produção social de uma sociedade. Já formação social é um conceito empírico porque é um fato empírico que uma sociedade mais ou menos isolável acha meios de se reproduzir ou não. É a partir desse fato empírico que é possível abstrair a ideia de que cada formação social o faz de formas específicas. Por isso mesmo o ponto de partida de Marx é a formação social e não o modo de produção, que é um conceito formal.

A forma mercadoria, por exemplo, de fato existe.

Penso que aqui há uma confusão sendo feita entre dois usos de "materialidade" na teoria marxista. O primeiro é o sentido marxiano de expressões como "conteúdo material", em que se fala da concretude de um objeto, suas propriedades empiricamente recebidas, constatáveis "imediatamente". (Aqui uso "empírico" no sentido tradicional e não nesse que você definiu.) Outro sentido é o da expressão "materialismo", em que, ao tomar o ponto de vista da produção material de uma sociedade, estamos investigando suas >práticas materiais<, ou seja, as dinâmicas por meio das quais uma formação social se reproduz. Essas últimas são, portanto, formais no sentido em que não se reduzem à concretude dos indivíduos envolvidos, mas são uma abstração que descreve a verdadeira realidade do processo (a realidade humana).

Veja, não é que porque as categorias formais independem do "conteúdo material" dos objetos concretos que que elas descrevem que elas são imateriais. Todo o ponto do conceito de fetichização da mercadoria, por exemplo, é a de que se reduzirmos o entendimento dos valores às suas propriedades individuais, atômicas, não estaremos entendendo nada sobre a produção social. A "essência" da mercadoria é a sua forma, ela sim é "real".

  • "Se a realidade está na forma então seríamos kantianos, não marxistas, pois veríamos a essência das coisas na razão que ordena a percepção e não no real que nos oferece esta junto a possibilidade concreta de ordenamento subjetivo da objetividade."

Não, porque a forma em que a dinâmica social se dá não depende da observação de um sujeito individual que contém em si um ponto de vista universal. Essa forma é "real" no sentido que contém não a verdade transcendental de um sujeito, mas a verdade prática de uma formação social. Compreender essa forma depende exatamente da superação desse ponto de vista individual, ou seja, em tomar o ponto de vista da totalidade.

Todo o meu ponto (e quero crer o do materialismo dialético) é o de que a verdadeira realidade NÃO está no fato empírico, mas na abstração que é feita desses fatos, ou seja, a "forma" dessa série de conteúdos aparentemente desrelacionados -- e que essa forma não é transcendente à realidade social, mas é forjada no seu interior por meio de práticas materiais.

jan 30 2017 ∞
jan 31 2017 +