"O substantivo latino interpretatione tem orzgem na feira, no negócio, na discussão dos preços ou do preço, pretium, face ao qual os interlocutores assumem posições diversas, de onde o inter­ -pretium, a interpretatione, a interpretação." (prefácio do organon por pinharanda gomes)

ex-plico: "plico":1 (transitive) I fold, bend or flex; I roll up2 (transitive) I arrive (this meaning comes from sailors, for whom the folding of a ship’s sails meant arrival on land)

isso aclara a importância dada por macherey à distinção. interpretar é apresentar um equivalente, um valor que se declara igual a outro e pelo qual pode ser trocado. explicar, ao contrário, deve ser produzir uma coisa de outra ordem; é "desdobrar" essa coisa extraíndo dela o que já estava no seu princípio mas que é diferente da coisa; é "realizar na matéria natural seu objetivo". se interpretação é troca, explicação é produção.

a substituição de uma coisa pela outra é a negação da existência do substituído desde a positividade da essência do substituto, que passa então a existir. uma existência é retirada enquanto outra toma seu lugar sem que nada se passe no nível da essência. essa seria a dialética spinozista de macherey, que não põe síntese alguma ao preço de não transformar o que nega.

assim, a tarefa de explicar é a tarefa de desdobrar sem substituir. a explicação, portanto, deve ser tal que aquilo que era permanece e muda ao mesmo tempo, e a condição mesma de sua mudança é sua permanência. o explicado produz sua própria a explicação sem que o explicado deixe, por isso, de existir, de modo que a garantia mesma da essência da explicação é a existência do explicado, e a explicação deve, por isso, preservá-la. no entanto, se o próprio modo de existência da explicação é o da negação da essência do explicado (pois a explicação não apenas adiciona um atributo ao explicado, mas retira seu atributo anterior), a existência deste é posta em risco e o sistema entra em curto-circuito: se a essência do explicado desaparece, desaparece também sua existência e, com isso, a explicação perde sua essência e deixa de existir. no entanto e por fim, se a explicação inexiste, o explicado recobra sua essência e, com isso, volta a existir produzindo novamente sua explicação.

a contradição pensada dessa forma é irredutível e, por isso, sem síntese; ainda assim, sua tensão interna é, ao mesmo tempo, o que garante a unidade entre a explicação e o explicado, que jamais se obliteram totalmente. no entanto, aí será preciso repensar a oposição essência/aparência.

aug 2 2018 ∞
aug 12 2018 +