a dialética não é uma processualidade em continuidade abosoluta -- como, por exemplo, a duração bergsoniana --, pois, se o fosse, ela não chegaria a constituir figuras estáveis. essas figuras não apenas expressam a progressão dos seus momentos na plenitude da sua realização (como uma "ideia verdadeira que não conhece a si mesmo"), mas, logo em seguida, já expressam a falsidade de sua identificação bem resolvida como conquista e fazem parte desse momento do que poderiamos chamar de "reificação" do pensamento. a sutileza da crítica que procede de modo dialético consiste em não buscar obliterar essas figuras após sua superação nem expô-las como troféu conquistado de uma vez por todas, mas preservá-las como restos do processo crítico, como um amuleto que pode sempre lembrar seu circuito de negatividade interno e específico. é assim que devemos compreender a insistência de adorno em retornar a todo tempo aos mesmos "modelos críticos", rememorando seu percurso já percorrido. mas essa não é uma mera estratégia mnemônica: essa é a via pela qual a dialética negativa adquire sua coesão antissistemática, que é a da constelação de modelos críticos relativamente dispersos um em relação ao outro, mas que, por essa razão, permitem que eles entrem em tensão uns com os outros e faça o antissistema avançar. ao mesmo tempo em que a confrontação do objeto com os modelos (de que dispomos na cena crítica como um inventário) faz aparecer aquilo que já sabíamos nele, essa não é uma operação sem riscos, pois pode ser que o objeto diga algo sobre nosso amuleto que o transforme ou mesmo o reverta inteiramente e, dessa forma, reverbere por toda a constelação. por isso a certeza hegeliana de que as figuras que a dialética produz se esgotam no conceito que fazemos dela é inadmissível para a dialética negativa, e isso não apenas por uma adesão formal a princípios materialistas, mas como uma orientação metodologicamente crucial.
daí o partido.